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Carta ao presidente do Brasil, não do Brasileirão

Carta ao presidente do Brasil, não do Brasileirão

Presidente eleito, quem está falando é um palmeirense como vossa excelência – mas que não votou em você. Ou seja, já pode apontar a arminha pra mim (brincadeirinha, que eu sei que o então candidato adorava falar que tudo era brincadeira quando falava em palanque em metralhar a oposição). Mas este papo seria o mesmo se fosse outro o eleito: o candidato que tive de votar, o cabo que subia no monte, os que já esqueci. Se fosse Dalai Lama, Gandhi, o Papa Francisco, meu pai ou o seu Tinhoso, falaria o mesmo: vossa excelência tinha todo o direito de estar na tribuna como o nosso clube tinha motivos para o convidar pro deca. Mas vossa excelência tinha o dever de não entregar a taça ao campeão brasileiro. O nosso time.

A não ser que em outros anos o presidente já empossado faça o mesmo com outros clubes (o que sabemos que não será problema para quem nisso é tão tolerante em vestir outras camisas). Mas se vossa excelência fizer algo que nenhum presidente fez antes, ao menos não repita a volta olímpica. Nem Mussolini fez isso.

(Nosso clube, como sabemos e muitos de seus eleitores, teve fascistas. Mas não era fascista e nem racista como aquele desperdício de carbono da jornalista argentina Eleonora Gosman publicou outro dia no texto que é zero jornalismo, zero história e 171 jogada ensaiada ideológica contaminada por estoriadores de quinta-coluna e categoria… Aliás, nobre coleguita, espero que você me desbloqueie no Twitter e faça a retificação que seu CLARÍN teve de fazer pela sua corneta burra).

Insisto, presidente. Este papo que murchou quem o acha mico e não acrescentou a quem o vê como mito é de um eleitor de Haddad que votaria até no Daciolo, mas não no 17. Mas eu também falaria o mesmo para o meu candidato de urna. Como critiquei Andres Sanchez quando levantou junto com Willian a flamejante taça do Corinthians no SP-09. Como critiquei Paulo Nobre quando fez o mesmo com Zé Roberto, na Copa do Brasil-15. Nem os presidentes dos clubes podem levantar junto o troféu com os capitães. Só depois.

Político, qualquer um, não pode dar bandeira dando troféu e volta olímpica. Você não ergueu junto o BR-18. Mas não tinha que estar naquele palanque. Vossa excelência agora não tem mais palanque. Tem Planalto pra cuidar do país.

Seleção é outro papo. Chefe de Estado está lá pra isso. Pra troféu de clube, jamais. O Figueiredo que era biônico não deu pro Fluminense dele em 1984. O Medici que é inominável não deu para Grêmio e Flamengo – que também não ganharam nacionais entre 1969 e 1974. O corintiano Lula não deu em 2005 (e recebeu em Brasília apenas 5 atletas campeões da Copa do Brasil-09, no dia seguinte ao titulo).

No gabinete, pode. No gramado, não.

O troféu que Vagner Bacharel, Jorginho Putinatti e Mazola, nossos ídolos, não conseguiram levantar pelo nosso time, você ergueu e com isso levantou polêmica desnecessária. Em vez de discutirmos quem jogou mais no BR-18 (Dudu ou o nosso capitão Bruno Henrique), agora brigamos para saber se mais oportunista e maluco é o Deyverson ou o presidente eleito. Em vez de gritos de Palmeiras ou qualquer outro nome campeão na festa, ouvimos de mito a mico, de monstro a milico, de aplausos a xingamentos a você e a Lula.

Pra quê? Por quem?

Fizesse a festa na tribuna, presidente. Faz parte. É da democracia que desejo e defendo, a que o elegeu (e espero que também seu sucessor) e que você nem sempre defende com teses brilhantes de QIs de ustra. É do Palestra da Itália de nossa raiz. Dos imigrantes de todos os pontos e portos que não são “escória”, são escolhas que fazemos quando não temos outra. E quando temos escola, precisamos respeitar. Como você não soube a competição, os adversários, os atletas, o próprio clube campeão.

Respeito o seu cargo, presidente. O brasileiro (o eleitor, não o Campeonato) o escolheu. Avante como Palestra, não como exército. Verde como Palestra, não como oliva. Seja o presidente de todos. Não do Palmeiras.

Sou um palmeirense como você. Também alguns jogadores me pediram pra subir no trio elétrico no domingo passado como fizeram também em 2016. Também fui aplaudido e carregado por gente de verde na rua. Mas eu, você e ninguém é mais palmeirense do que ninguém. Nem o presidente. Seja mais previdente. Mais político na melhor acepção.

Já que estamos falando de egos inflados, sou curador do Museu da Seleção. E fiz questão de não tocar em nenhum dos cinco canecos. Como nunca toquei em nenhum dos que erguemos. Eles são da torcida. Mas são conquistados pelos nossos enviados. Nossos soldados em missão, capitão.

As medalhas são deles. Não de quem as coloca no pescoço. Não de quem aparece na foto só na festa. Nas quedas não o vi nas arquibancadas. Nas derrotas não o vejo nas redes, presidente.

Sei que você não é o meu candidato. Mas agora é nosso presidente. E precisa ser cobrado. E colocado no seu lugar. Hierarquia se aprende no quartel. Respeito também parece provável que seja.

A CBF manda. Mas obedece quem tem juízo. Era só acenar da tribuna de honra. De honra, presidente. Não entregar medalha e troféu. Vossa excelência terá 4 anos pra isso.

Mas sempre em Brasília.

Diferente do nosso Palmeiras, que parece que tudo pode, presidente não pode. E precisa parecer.

Não aparecer como Marin só no pódio que não pode. Ainda bem que pelo menos as medalhas foram todas entregues a quem de direito. Mesmo que por quem não tinha direito. Só o dever de ser o presidente do país. Não do Palmeiras que espero que ainda não seja seu e nem do candidato derrotado.

O Palmeiras é de todos nós que recebemos o presidente no nosso estádio. Mas não precisamos recebê-lo no nosso gramado.