Opinião

JG Falcade: 'A luta é palmeirense e Abel também'

Abel não é um lorde inglês que te mostrará uma prancheta gelada antes do jogo começar. Ele vai olhar na tua cara e berrar até saltarem as veias, as pupilas e os batimentos cardíacos

(Foto: Marco Galvão)
(Foto: Marco Galvão)

Eu sei bem que você pode pensar: ‘poxa, mas você é jornalista e está apoiando uma narrativa de guerra…’, sim, estou, mas não é uma guerra inglória e fantasiosa. Ela, acima de tudo, é histórica e inerente às cores que vestem eles e vestimos nós. As grandes conquistas do Palmeiras emanaram do ódio profundo. Sempre foi assim. Não espere desse povo um espírito de tranquilidade e sentimentos amenos. Não nos cabe. Nunca nos coube. Aqui, o sangue esquenta, a voz amplifica e o coração dispara. É romanticamente ríspido.

Abel não é um lorde inglês que te mostrará uma prancheta gelada antes do jogo começar. Ele vai olhar na tua cara e berrar até saltarem as veias, as pupilas e os batimentos cardíacos. Abel é um português carcamano, no melhor sentido do termo. Como nos chamavam de porcos e assumimos o Porco, ele assume o espírito de luta. Ele já entendeu que a satisfação, quando esverdeada, é combatida. E não há omissão a um bom combate. Bíblico, até. Abel é cria de Luis Felipe Scolari, o rei das narrativas, dos contos, dos romances.

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No futebol ou nos livros, o romance é aliado e inimigo íntimo da guerra. A linha é minúscula entre o lado de cá e o lado de lá. Abel chegou no amor, no romance, no encantamento. Conquistou. A vitória trouxe os olhos esguios e dissimulados e ele contra-atacou com a guerra. E a história sempre provou que a luta aproxima, conecta, liga, une, semeia. Ele sabe que seu único aliado, e que pode desertar, é o palmeirense. Mostrar-se como tal é genuinamente estratégico. Ele vestiu as cores.

O Palmeiras, e o palmeirense, alimentam-se da raiva. É o almoço e o jantar desse povo que se acostumou a estar com ele e somente com ele. E não importa o que diga. Nasceu de luta, conquistou por luta, se reergueu na luta, venceu noites épicas quando foi piada, dobrou o continente e embolsou quando ninguém acreditava. A pedra fundamental deste clube é ser criticado. Se você quer o mal do Verde, fale bem dele. Ele se tornará indiferente, morno e até passional. Se você cutucar, espere pelo retorno. Vão surgir forças sabe Deus e San Gennaro de onde e a história vai ficar preta. Verde, no caso.

Falar mal, tudo bem, desde que seja vindo de nós. Se vier deles, é guerra. As diferenças somem e surge o nós contra todos. O palmeirense é aguerrido, além de corneta. Ele topa tudo, desde que na mesa de casa. Forasteiro, não. Rival, tampouco. Não sei sobre o futuro e como o discurso será usado contra o comandante, mas ele escolheu o caminho dos seus. É nobre e é coerente com a história. Logo ele, que já tem PhD em Parmerismo. Não queira apenas razão do Palmeiras e dos palmeirenses.

Eles têm sangue nas veias e nos olhos. Sempre.

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