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A conquista de ser paciente

Roger Machado (2018): 18 jogos, dez vitórias, cinco empates, três derrotas, 35 gols marcados e 17 sofridos. Aproveitamento de 64,80%.
Roger Machado (2018): 18 jogos, dez vitórias, cinco empates, três derrotas, 35 gols marcados e 17 sofridos. Aproveitamento de 64,80%.

É, por mais que tenhamos analisado logo de cara que a vitória gigantesca de ontem tenha se notado muito pelo arrojo e pela agressividade de jogar em plena arena do campeão da América, o dia depois traz à lembrança alguns momentos ímpares que revelam uma estratégia que aconteceu o tempo quase todo e foi um todo super eficaz: a paciência de ter a bola.

Eram poucos minutos de uma primeira etapa frenética que já carregava nos melhores momentos dois lindos chutes de Willian na trave de Grohe e uma grande blitz inicial, mas um zero a zero que ia ao encontro das palavras de Roger, outrora: “manter o zero no placar é o primeiro passo pra vencer”. Parece óbvio e de fato é, mas foi preponderante para que o melhor visitante do ano fosse o verde.

Aí nos recordamos de um outro dia desses, o pós clássico da última segunda-feira quando Moisés dizia: “precisamos voltar a fazer o gol no começo dos jogos para minimizar a pressão e ter o comando”. Não foi apenas discurso, foi a lembrança de um time que venceu esse mesmo campeonato uns meses atrás com a filosofia do sufocamento rival. Ontem, muitos discursos se encontraram em uma prática que culminou na melhor atuação desse time em jogos nacionais.

Início avassalador que assustou o poderoso Grêmio e por mais que não houvesse acontecido o gol, o recado que havia uma equipe pronta pra responder às proposições fez com que nem todos os atletas gremistas se desprendessem e fizessem o avanço em blocos que é característica do time gaúcho. O primeiro passo para vencer, de forma prática, estava dado.

Em excelente lance do ligeiro Evérton, um contragolpe, o Palmeiras retomou a posse em velocidade e poderia lançar Hyoran no duelo pessoal, mas houve uma cena que explica o segundo passo: a retenção. Moisés e Dudu gesticulam veementemente para que o passe não fosse feito, que a equipe rodasse a bola e isso culmina em quase um minuto de cuidado com a bola nos pés, com as posições preenchidas, com um ar a mais no pulmão e uma finalização de Willian, em condições reais. Esfriar a trocação com o Grêmio foi um ato pensado de quem sabe o poder de fogo do rival.

Não se tem controle sobre todas as ações em um jogo de futebol, mas se minimizam as possibildades de imprevistos negativos ocorrerem. Foi assim que o Palmeiras retomou o segundo tempo em que o Grêmio perdera Maicon, seu ritmista, o cara que comanda com que velocidade a bola vai andar. Como fazer? Cuidar da bola como se fosse a última vez, afinal, quem a tem, não sofre com ela. Irrita o adversário, sua torcida e contamina o ambiente. Hora do bote.

Com algum descontrole já evidente, os espaços são mais constantes e na individualidade de quem não precisou correr feito louco e teve gás pro duelo pessoal, Dudu achou Willian que achou o gol. Não há autocontrole e boa técnica que resistam a tamanho golpe chamado gol.

Naturalmente, os gaúchos iniciariam dez, quinze minutos de puro esforço físico e muita correria. Três passos para trás para três pontos pra casa. Todos defendem sem maiores constrangimentos porque sabem que o empate só sairia naqueles minutos, a intensidade empregada não poderia se manter por tanto tempo.

Não tardou para o clima se amainar e o Palmeiras voltar a ter mais tempo com a bola nos pés até achar o contragolpe perfeito no mesmo bigode que havia feito barba e cabelo. A vitória de quem foi estrategicamente perfeito na prancheta e muito, mas muito focado dentro das quatro linhas. A bola, sempre a bola, tê-la é fundamental.