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A dádiva do pequeno Antônio e o sonho de uma família que leva o Palmeiras no sangue

A dádiva do pequeno Antônio e o sonho de uma família que leva o Palmeiras no sangue

Já virou clichê aquela tal frase do "não é só futebol", né?

Quantas e quantas vezes nós já escutamos isso.

Porém, em uma semana em que Silvia Grecco levou a alma e o amor da arquibancada palestrina para representar o Palmeiras no maior prêmio do futebol mundial, não tem como não perceber que esse esporte, e principalmente o Palmeiras, só existem por causa de seu povo, e das histórias que cada grito nos estádios trazem com si.

Seus Antônios e Marias espalhados por todo esse Brasil.

Contarei essa história exatamente da forma como ela chegou pra mim. Até porque mais nada precisa ser dito.

Acompanhe o diálogo até o final que vai valer a pena:

-Olá, meu nome é Ricardo. Somos uma família de Ribeirão Preto, interior de SP. Eu e minha esposa Mariana temos a Isabela de 10 anos de idade, e o Antônio que completou seus 8 anos recentemente. Devido à distancia da capital e por em sua grande maioria, os jogos serem ou às quartas feiras ou aos domingos, a ida para o Allianz se torna prejudicada, já que trabalhamos diariamente e as crianças vão à escola no período da manhã. E o Antônio e a Isabela, sempre nos pediam para levarmos eles ao estádio do Palestra para assistir ao jogo. Até então só havíamos levado eles junto com meus pais e irmão para fazerem o tour guiado no Allianz.

-Aquela vontade deles em especial do Antonio não passava. Todo jogo do Palmeiras na TV, era sempre a mesma coisa…

-Pai, quando é que vamos conseguir um dia assistir ao jogo no Allianz com o padrinho e todos nós?

-E eu sempre respondia: – Filho, São Paulo é longe e pra ir pra lá só para assistir ao jogo fica muito cara a viagem, sem falar que você tem aula no dia seguinte! E depois vinha a carinha dele de decepção…

-Eis que surgiu o tão esperado dia. Eu passei por uma cirurgia bem complicada na face em agosto deste ano e os cuidados comigo eram altos. Eu estava proibido pelo médico de sair de casa ou tentar fazer algo que pudesse trazer algum risco a mim. E justo neste final de semana que foi o jogo, nós tínhamos o nosso trabalho voluntário na Igreja com o Encontro de Casais com Cristo que acontece anualmente. Mas devido à minha cirurgia, nós acabamos não assumindo o compromisso com antecedência devida.

-Logo na segunda-feira que antecedeu ao jogo, virei para minha mulher e disse: ‘Se eu já estou retornando minha vida de trabalho, já posso também assumir o trabalho lá no ECC, o que acha?’. Ela achou ótimo e já foi atrás da Igreja para tentar nos realocar no Encontro da Igreja. E logo em seguida (tem coisas que não tem explicação), meu irmão (palmeirense fanático, meu maior influenciador e aos meus filhos e sobrinhas a torcer para o Verdão), me liga perguntando o que faríamos no final de semana e que ele estava muito feliz, pois queria fazer uma surpresa para o afilhado dele (Antônio). Ele havia conseguido camarote para nós todos assistirmos ao jogo do Palmeiras contra o Cruzeiro juntos. E no desenrolar da conversa, acabamos então firmando que iriamos à São Paulo e que estaria tudo certo.

-Pedi desculpa para Deus, recebi OK dos meus médicos mesmo com aquela cara de reprovação, mas decidi contar para o Antônio somente na quinta-feira que viríamos pra SP.

-Vi na cara do meu filho que ele não se empolgou tanto como costuma. Perguntei: ‘Filho, não está feliz por irmos à Sampa ficar na casa do seu padrinho e da sua madrinha, pra brincar com a sua priminha ?

-Sim pai (com voz desanimada), mas… não nada pai…

-Fala filho, o que foi?

-Não, não adianta falar, você não vai poder e também não vai deixar (cara triste).

-Fala filho, agora quero saber, e então ele me solta essa…

-Podia ter algum jogo do Palmeiras pra podermos ir todos juntos né, mas já sei, você vai falar que não pode por conta da cirurgia e que fica caro…

-E então esbravejei (propositalmente, parte do teatro) com ele: ‘Poxa filho, você só pensa nisso, só pensa em você! O papai está operado com dor, nem poderia viajar, mas vamos justamente pra poder levá-los pra passar um final de semana diferente em Sampa, pra você ficar com seu padrinho! Poxa vida filho, nem pensei em jogo, você acha que estou com cabeça pra isso? Nem sei como está o calendário de jogos do Palmeiras e nesta altura, mesmo se tiver algum jogo, nem vai ter mais ingressos pra comprar…’

-E então ele seguiu cabisbaixo e desapontado dizendo que sempre falo que um dia iremos, um dia iremos e esse dia nunca vem! Que eu só prometo isso pra ele, mas nunca levo… (risos)

-Ao arrumar a mala, de praxe, ele sempre leva consigo o uniforme, a bola e a mochila do Verdão, pois gosta de jogar bola na quadra do prédio com seu padrinho.

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-Chegando em Sampa, o teatro entre todos nós permaneceu forte, ao ponto dele chorar mais vezes. O padrinho dele soltou baixinho que ia ter jogo do Palmeiras no sábado e ele mordeu a isca certinho…

-Ahhhh pai!!! Vai ter jogo do Palmeiras viu!!!! E foi chorando desolado para o quarto…

-Neste momento as mães (esposa e cunhada) já de coração partido: – ‘Tadinho, está partindo nosso coração….’

-E eu fiquei firme: ‘Filho, para de chorar e vai tomar banho! Eu já tinha te explicado, não viemos para jogo, eu não posso sair e estou sem dinheiro para isso! E após seu banho, ele voltou mais tranquilo e convencido de que realmente chorar ali naquele final de semana não surtiria mais efeito algum.

-E aí meu irmão lançou a brilhante ideia durante o jantar: "Olha só, tenho uma ideia: Por que não almoçamos lá no shopping Bourbon amanhã? (tudo parte do plano, já sabíamos todos os passos, mas ele nem sonhava). Assim, o Antônio vai poder ver a galera toda de palmeiras no Shopping, pois lá é reduto palmeirense, e você vai ver que legal Antônio…

-Sim!!! Aí então eu posso ir com o uniforme do Palmeiras!

-O sábado chegou, e entramos no restaurante do shopping lotado de palmeirenses e ele lá, animado, mas ainda cabisbaixo. Saímos do restaurante, até que cedemos às constantes investidas insistentes dele em pedir para que ao menos fossemos passar em frente ao Allianz. E acabamos indo. Passando em frente ele me manda essa.

-Pai, quero te pedir uma única coisa, da mesma forma que você fala para mim, quero que ao menos você tente comprar ingresso. Se você ao menos se esforçar por isso e me mostrar que tentou, eu ficarei feliz.

-Puuutz, depois dessa, coloquei o meu rabo entre as pernas. "Tá certo filho, o papai então vai tentar, mas não crie expectativas. Tentar não quer dizer que eu vá conseguir…

-Virando a esquina da Padre Antônio Thomáz, vimos uma fila bem grande. Neste momento Antônio descobriu que o ônibus do Palmeiras estava chegando…

-Pai, vamos esperar. Quem sabe eu não tiro foto com os jogadores…

-E lá fui eu novamente jogar um balde de água fria nele… – Filho, esquece!!! Você acha que eles virão até você?. Eles vão sair do ônibus com seus fones de ouvido, em concentração, e entrar direto no túnel e nem vão olhar pro lado. E aí ele ficou desolado novamente, e foi então que começa o vídeo que vocês viram no twitter…

-Eu tinha um monte de coisas bonitas para dizer para ele naquele momento, mas a voz embargou e só saíram lágrimas de todos.

-Por fim, quero dizer que a minha intenção com o vídeo em nenhum momento foi para me autopromover, pelo contrário, sou de uma família que nunca gostou de se expor muito. Mas o intuito principal é para que as pessoas comecem a se conscientizar que o estádio de futebol, deve ser cada vez mais lotado por famílias, por pessoas do bem, por pessoas mais tolerantes na vida. Nosso mundo precisa de cura.

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