
Eu não nasci em uma época boa. Foi na melhor de todas, segundo meu pai. Ainda assim, entendi meu amor e minha torcida em uma época difícil. Minhas glórias eram humildes. Meu craque não tinha número e não tinha posição em campo. Ele ficava em todos os lugares. Onipresente, onisciente, coração e fé nas cores. O Palmeiras era eletrificado por quem estava chacoalhando no concreto. Eu estava lá.
A maior conquista que eu havia presenciado até então era um título estadual. Depois, um título com gosto de derrota. Mal sabia eu que o fundo do poço reservava um dos times mais bonitos e mais tocantes que o Palmeiras já teve. Que orgulho me corre pelas veias quando relembro esse ano. E, ainda mais, quando me lembro daquele Palmeiras x Libertad.
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O Pacaembu não poderia receber mais uma alma palmeirense que fosse. Era um mar de verde, branco e de fé. A vitória contra o time paraguaio, que era mais forte, assegurava ao Verdão a vaga antecipada às oitavas de final da Libertadores. Fase de mata-matas pro time de segunda divisão. Do desacreditado, dos nomes poucos expressivos, do técnico azarão. Daquele que tinha coração pra jogar Copa do Mundo.
Era inspirador. O time sofria pra criar, construir e dominar. Mas não tinha problema em vencer na força, ganhar na corrida, ser mais firme na dividida. O jogo era duríssimo, mas o Palmeiras lutava. Do lado de fora, o torcedor COMEMORAVA lateral, escanteio, falta, passe errado. Não tinha problema. Só tinha música e sinestesia.
Em um chute errado, o gol que chacoalhou até a praça Charles Miller. O torcedor nem comemorou, ele desabafou toda sua angústia, ele descarregou. Minutos depois, a luta era com um jogador a menos. Foram 30 minutos de sobrevivência. De lá em diante, eram 11 contra 40.011. Nunca se viu tamanha potencialização de um time por meio das vozes embargadas de raiva e de amor. Quanto amor.
Abraçados, Palmeiras e Pacaembu festejaram como se fosse taça. E foi. Superada a descrença, a zombaria, a falta de respeito. Da cabine de transmissão, Mário Sérgio, que hoje mora com Deus, disse: ‘a gente se emociona, é contagiante’. No apito final, o som do estádio emudeceu narradores. Ninguém arredou pé, todos cantavam e festejavam juntos. Emocionado, eu contemplei uma das noites mais maravilhosas dos piores Palmeiras de todos os tempos.
Mas o mais coração de todos eles.
Que seja um bom presságio.
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