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Saudosa. Querida!

Saudosa. Querida!

(oto: JG/Acervo Pessoal)

Dia 19/11/2018, seis horas da tarde, em uma esquina qualquer:

"Se o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse adifício arto
Era uma casa véia"

Querida, muito querida. A nossa. Saudosa. Casa que o neto aprende com o pai que lá é onde mora o vô. Que senta no colo pra ouvir uma historinha antes de dormir e nos primeiros minutos, cede ao sono. Invade os sonhos para imaginar e fazer materialmente inatingível aquele pensamento. O velho, carinhoso com a memória, não consegue parar de celebrá-la. É como recontar e reviver tantas sensações. "Pra fora, Zapata. Pra fora..", a última antes de embargar-se por completo e sucumbir ao descanso.

Já jovem, o moleque tem suas experiências acumuladas na mochila da vida, suas noites de Wendel para Valdívia, pro gol. Pra primeira taça. Pra dança de luzes que acendiam e apagavam no prédio verde por entre arquibancadas. Começa a entender que aquele olhar avermelhado do velho quando falava sobre "casa", era mais que a de portas e janelas de madeira. Passou a significar a importância de ter um lugar onde não se mora, mas se vive. Não se tem, mas é posse pura de coração.

Beirando os primeiros fios de bigode e a segunda namoradinha de colégio, pega hábito em amar. Sente-se absoluto nos arredores daquele lugar. Sente magia nos braços arrepiados quando atravessa o "elevado Costa e Silva", toma o metrô, encontra muitos como ele, mais velhos, mais carecas ou ainda bebês, mas sente a sinergia que extrapola os vagões. Desambarca na plataforma 5 e observa uma procissão por entre a rodoviária.

"Boné, boné, boné, olha o churrasquinhoôÔ, Palmeiras!"

Cruza a Matarazzo e vê-se de cara contra os tapumes. Esbarra na distante Arena de uma cidade vizinha. Batia o desespero de ver desmorando tudo aquilo que representa em concreto e tijolo, o sonho. A criação efetiva do caráter familiar em ser um torcedor, em ser o Palmeiras, em ser como o pai, como o avô. Por mais que o futuro pudesse ser bonito e moderno, machucou:

"Peguemos tudo as nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Apreciar a demolição
Que tristeza que eu sentia
Cada táuba que caía
Doía no coração"

Ô, foi triste. A curva do gol da ferradura, as chaminés que eram pilares emocionais de cada alma que subiu pelo fosso até a marquise das numeradas cobertas. Demolidos. No chão, no concreto que só preservou as piscinas. Nem o escudo que tantas bocas beijaram em ápice pós gol. Entulhou-se tudo em um hiato lento, penoso, sofrido.

Volta pra casa com a lágrima em saudade. No rosto de quem precisava do cheiro de casa, do sono bom.

Dia 19/11/2014, seis e meia de tarde, na esquina mais verde do mundo:

Em pleno êxtase, no sentimento mais genuinamente impossível de se transformar em palavra nesse texto que já tem seu escritor chorando, como chorou naquele dia. Olhava, maravilhado, para aquele monumento. Não sabia o que fazer, que foto tirar, para onde ir. Havia um paraíso na terra e ele tinha dono. Todos nós. Era a Maloca, em alma.

No primeiro hino nacional do Palmeiras, o concreto tremeu. No penâlti de Fernando, passou toda a mágoa daquele outro dia em que a tristeza floresceu em festa pela glória de permanecer. No abraço do 1 com o 49 inundado em um sentimento que nunca se repetirá. Na volta de um pai, a sensação de recomeço, a sensação de voltar aos pensamentos de menino. Nas história de ninar.

Agora, 18:55 da noite, uma gratidão:

Ser o menino dessa história que pode ser a de todos vocês. Na nossa casinha de papel que virou essa imensidão de glória e luxo. É a sensação ímpar de ter um lar e saber que lá, seja o dia que for, sempre será capaz de me fazer muito, mas muito feliz. Será capaz de me lembrar como foi aquele sonho em que imaginava como deveria ser lindo o lugar em que as história do velho se passavam.

"Saudosa maloca, maloca querida
Dim-dim donde nós passemos os dias feliz de nossas vidas"

Pra sempre, Palestra.
Por tudo, Allianz.