Sou filho do rádio. Meu pai deu o golpe do baú no diretor da 9 de julho (meu avô) e casou com a produtora (minha mãe). Eu trabalho em TV, internet, YouTube, Facebook, blog, portal, revista, videogame, curadoria de exposições, documentários, livros, palestras, exposições.
Mas a minha paixão é o rádio.
Há 46 anos ouvi a primeira final da minha vida em rádio. Em 1972 eu vi o Palmeiras ser campeão invicto paulista pela TV um dia depois do meu aniversário de 6 anos.
No BR-72 eu não ouvi o título contra o Botafogo por estar puto com meus pais por não me deixarem ver o jogo no Morumbi. Onde vi o bi nacional de 1973 no colo do meu pai contra o São Paulo.
Em 22 de dezembro de 1974 meu pai não quis ser um dos menos de 20 mil palmeirenses contra os 100 mil corintianos. Não quis ir com os filhos ver Ronaldo (falecido em 2020) marcar o gol que deixou o rival mais um ano de jejum. Não teve transmissão pela TV. Teve a gente naquele domingo feio ouvindo o Transglobe ligado na Jovem Pan, onde meu pai comentava economia desde 1972. Onde eu comento futebol desde 2015.
Osmar Santos narrou Jair Gonçalves cruzando da direita para Levinha ganhar de cabeça de Brito (e de qualquer ser humano sempre) e tocar para Ronaldo. O que eu lembro é me ajoelhar na frente do radião enquanto meu irmão pulava, meu pai batia palmas, e o filho da prima da minha mãe que nos visitava acordava no quarto dos meus pais com o nosso barulho.
Só depois eu vi o gol que o Osmar Santos desenhou na Pan. Imagem do gol da Bandeirantes e do Canal 100 que estão no primeiro documentário que dirigi com o Jaiminho Queiroz. Está escrito em alguns dos meus 9 livros do Palmeiras e palmeirenses. Está na biografia do Fiori que escrevi com o Paulo Rogério. Acabei de passar no Esporte em Discussão da Pan na produção do Diogo Mesquita.
E ainda assim não consigo descrever jamais essa emoção que só o rádio, que só o Palmeiras, que só a família, que só meu ofício há 30 anos, que só o amor explica.
Ou melhor: é desnecessário, meu pai já falou a respeito.