Mesmo com apenas três jogos no comando do Palmeiras, Abel Ferreira, aos poucos, coloca na equipe sua maneira de enxergar futebol. A saída em três, os passes verticais, o foco na qualidade das transições (tanto defensivas, como ofensivas) e a intensidade de jogo são algumas das características mais visíveis nas últimas partidas. Entretanto, uma ideia muito importante, ainda que menos citada, é o uso dos alas como fator de desequilíbrio ofensivo, mesmo sem jogar com três zagueiros.
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Independente do jogador escalado na função e do lado do campo, os dois trabalhos básicos dos alas são pisar na linha lateral para abrir o campo e atacar o espaço em direção à linha de defesa adversária.
Na primeira tarefa, a ideia de pisar na linha lateral é alargar a marcação adversária e criar espaço no meio campo para os volantes circularem a bola. No jogo contra o Vasco da Gama, por exemplo, Felipe Melo e Zé Rafael puderam dar, respectivamente, 72 e 70 toques na bola durante a partida, por conta dessa largura proporcionada pelos alas.
Já no que diz respeito ao ataque à linha de defesa adversária, nas últimas três partidas pudemos ver uma participação muito mais efetiva desses jogadores, com uma assistência de Viña, contra o Red Bull Bragantino, e um gol de Gustavo Scarpa, contra o Ceará. Essa chegada dos laterais ao fundo permite que a área seja sempre invadida por mais atletas, principalmente os meias e atacantes, que não precisam mais aparecer pelo lado do campo para abrir a o jogada.
Com essas duas características muito bem definidas, Abel já pôde, mesmo em início de trabalho, utilizar variações de sistema tático (do seu predileto 3-4-2-1 para o 4-4-2 com duas linhas de quatro) e, até mesmo, utilizar meias e atacantes na função. Contra o Vasco da Gama, nos momentos em que Gabriel Menino fazia a saída em três com os zagueiros, Rony era o responsável por abrir o campo pelo lado direito, enquanto Viña fazia a mesma coisa pelo lado esquerdo.
Ao perceber que o Vasco pressionava a saída com poucos jogadores, Abel decidiu abrir mão deste modelo para colocar mais um jogador no meio/ataque e, com isso, liberou Rony de abrir o campo e transformou, novamente, Gabriel Menino em um lateral, abrindo o campo e atacando o espaço.
Mas, sem dúvidas, o principal destaque dos últimos jogos nessa função foi Gustavo Scarpa, que, improvisado como Rony, mas com a função definida independente da circunstância do jogo, igual a Viña, se viu renascido dentro do elenco alviverde. Na partida contra o Ceará, além do gol, Scarpa foi responsável por mais de 77% das tentativas de cruzamento do Verdão (14 de 18) e, também, por dar 85 toques na bola durante o jogo, se tornando, junto com Gustavo Gomez contra o Vasco, o líder desta estatística em um único confronto, contabilizando dados das últimas três partidas.
No mês de Abril, em entrevista ao canal “Quarentena da Bola”, Abel falou sobre a importância que enxergava para os laterais/alas no futebol atual: “Os laterais têm ganho maior preponderância, na minha opinião, porque os extremos não têm capacidade para desequilibrar e, também, porque os treinadores querem desequilíbrios de trás para a frente para potenciar o jogo de corredores”. Coerente com seu discurso, o treinador, em pouco tempo, conseguiu implantar o básico dessa ideia. Com laterais que chegam de trás para a frente, já estabilizou alguns jogadores, resgatou outros e, acima de tudo, fortaleceu o jogo coletivo da equipe.
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