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Amarcord: Palmeiras 0 x 0 Botafogo, BR-72

Amarcord: Palmeiras 0 x 0 Botafogo, BR-72

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Meus pais não me deixaram estrear do baixo dos meus seis anos no Morumbi. Na decisão do BR-72, na antevéspera de Natal. Contei mais no meu texto a respeito do jogo de futebol de botão com Ademir da Guia. http://nossopalestra.com.br/o-divino-e-o-futebol-de-botao/. O camisa 10 da Segunda Academia que ganhara os quatro torneios que disputara em 1972. Incluindo um Paulista invicto. Agora, na tarde daquele sábado tão chuvoso que atrasou o início do jogo em meia hora (16h30), bastava o mesmo empate sem gols que dera volta olímpica no Pacaembu, em 3 de setembro, contra o São Paulo.

A partida só começou mesmo 16h50. O Palmeiras atrasou 5 minutos para subir ao gramado do Morumbi. O Botafogo do treinador e ex-zagueiro Sebastião Leonidas levou mais 10. O preparador físico Helio Maffia, fundamental para o desempenho excepcional da Segunda Academia, se preocupou com a chuva e com a perda do aquecimento e pediu para o time se movimentar mesmo durante o Hino Nacional executado enquanto jogadores do Botafogo ainda davam entrevistas para as rádios. O repórter Gilberto Pereira levou um choque com o equipamento e foi atendido pouco depois. Voltou a campo a tempo de acompanhar a partida que fez uma vítima fatal: um torcedor palmeirense teve infarto no intervalo e morreu ainda no Morumbi.José Lazarini Filho tinha 73 anos.

O Palmeiras jogava pelo empate em jogo único pela melhor campanha em 29 jogos, com apenas 4 derrotas, numa temporada em que só foi perder um jogo no meio do ano. Sonou três pontos a mais que o Inter, terceiro colocado. Soube mais uma vez fazer os tempos do jogo. Ademir foi o melhor em campo e craque do BR-72. Melhor condicionado fisicamente pelo professor Maffia, dava um pé a Dudu e Madurga no meio, e se juntava a Leivinha na frente, com a ajuda dos pontas Edu e Nei, que também socorriam os laterais Eurico e Zeca.

O Botafogo pouco criou no primeiro tempo. Apático, Zequinha foi bem marcado por Zeca e por Alfredo, revelação da base do Palmeiras que foi sendo emprestado por três temporadas até Oswaldo Brandão o requisitar para ser reserva de Polaco, que chegara do Corinthians. Mas ele entrou tão bem na zaga quando o ex-alvinegro se lesionou ainda em janeiro de 1972 que acabou ficando.

Na segunda etapa, com o centroavante Fischer aberto na esquerda e o grandalhão Ferreti no comando do ataque substituindo o armador Ademir, o Botafogo acertou um lance aos 2min. Mas Fischer se atrapalhou com a bola na melhor chance carioca. Madurga trocou de função com Leivinha, que foi atuar na dele, puxando os contragolpes. O Palmeiras seguiu mais perigoso. Mesmo perdendo Dudu, lesionado no tornozelo depois de lance com Valtencir. O volante mais uma vez saía carregado de campo em uma decisão. No SP-72 quebrara duas costelas contra o São Paulo. Contra o Botafogo, anulara o Furacão Jairzinho.

Se não foi um jogo brilhante e emocionante, as palavras de Leônidas, treinador do Botafogo, encerram a discussão.

  • Nunca vi um esquema tático tão bem executado. O time deles marcou homem a homem e não deu espaço para nós. Seria uma injustiça o Palmeiras perder este jogo e o campeonato. Eles estão de parabéns.

Jairzinho corrobora a análise de seu treinador:

-Eles foram o melhor time do campeonato. O título está em boas mãos.

O público de 58.287 não foi o esperado, também pela chuva, e pela antevéspera de Natal. Então cabiam até 150 mil torcedores no estádio do São Paulo. Mas, na saída do Morumbi, nas avenidas 9 de Julho e Rebouças, e na Rua Augusta, o trânsito do começo de noite parecia de dia de trabalho. A noite teve a tradicional festa de título com chope no clube do Parque Antarctica. Não com tanta gente. Mas sempre com César Maluco comandando o samba da Camisa Verde e Branco. Suspenso disciplinarmente até março de 1973, ele não esteve em campo. Mas esteve sempre na festa.

PALMEIRAS 0 X 0 BOTAFOGO
Campeonato Brasileiro de 1972 /Final — Jogo Único
Sábado, 23/dezembro (tarde)
Morumbi
Juiz: Agomar Martins (RS)
Renda: Cr$ 649 445
Público: 58 287
PALMEIRAS: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu (Zé Carlos) e Ademir da Guia; Edu (Ronaldo), Madurga, Leivinha e Nei
Técnico: Oswaldo Brandão
BOTAFOGO: Cao; Valtencir, Brito, Osmar e Marinho Chagas; Nei Conceição e Carlos Roberto; Zequinha, Jairzinho, Fischer e Ademir (Ferretti)
Técnico: Sebastião Leônidas