Velloso já se aquecia no frio do final de tarde de 30 de maio de 1998 para a disputa de pênaltis que decidiria a Copa do Brasil. Ele teria a chance de se redimir da falha que cometera na decisão do torneio de 1996. Justamente Palmeiras x Cruzeiro. O timaço de Luxemburgo, Rivaldo, Djalminha, Luizão e Muller que parou diante da Raposa. Perdeu no Palestra de virada por 2 a 1 em falha de Velloso num cruzamento. Cinco minutos depois de o goleiro fazer um milagre em bola por cobertura de Palhinha.
Em 1998, o Cruzeiro vencera o primeiro jogo por 1 a 0, no Mineirão, gol de Fábio Júnior (que em 2001 jogaria pelo Palmeiras). No Morumbi, Paulo Nunes abriu o placar aos 12, em jogada de fundo de Oséas. Alex não foi o grande armador de sempre. O Palmeiras não fez um grande primeiro tempo. Mas fez a vantagem justa para levar o jogo para os pênaltis. Na segunda etapa, Felipão mexeu no time. Para pior. O Cruzeiro, para melhor. O palmeirense se enervando com o time ainda mais nervoso.
Pelo crescimento mineiro na segunda etapa, levar o jogo para os pênaltis até parecia bom negócio. Mas o clima no estádio não era bom. Não havia confiança. Ainda mais no banco de reservas. Se perdesse o título da Copa do Brasil, Felipão seria demitido depois de um ano de trabalho.
Aos 43 minutos, Almir cavou uma falta na meia-direita. Longe demais para uma cobrança direta, ainda mais sem o cobrador oficial (Arce), que estava com o Paraguai, treinando para a Copa de 1998, assim como estava o goleiro titular celeste Dida, servindo à Seleção Brasileira.
A torcida que estava quieta se manifestou quando Zinho ajeitou a bola e fez menção de chutar direto, em vez de cruzar. Lá da meta, Velloso também lamentou:
– Passa essa bola, Zinho! Chutar daí pra quê?
Zinho chutou. O goleiro Paulo César deu rebote para fora. Oséas correu atrás da bola. Almir apareceu livre de marcação por dentro. Era só o atacante baiano recuar para o companheiro fazer o gol do título.
Todo o banco do Palmeiras se levantou quando o goleiro soltou a bola. Quase todos berrando para Oséas (não ouvir) que Almir estava livre. Mas o centroavante não perdeu o instinto artilheiro. Logo, fominha: enfiou a sapatada sem ângulo quase na linha de fundo.
A bola subiu, bateu no alto da rede e correu até cair no canto direito da meta celeste. Do outro lado do campo, Velloso não entendeu nada do que viu. De fato, mais ouviu o grito da torcida atrás do outro gol. Onda sonora que tomou o Morumbi que estava fazendo com Oséas o que Felipão também fez quando ele chutou sem ângulo:
– Seu burro! Seu filho da… Gooool!!!
Até hoje não se sabe como aquela bola entrou. Só se sabe que, ali, Felipão continuou no clube. Para comandar o campeão da Libertadores um ano depois.
30/05/1998
Morumbi
Renda: R$ 453.674,00
Público: 45.237
Juiz: Sidrack Marinho dos Santos
Gols: Paulo Nunes (12 do primeiro tempo) e Oséas (44 do segundo tempo)
PALMEIRAS: Velloso; Neném, Roque Júnior, Cléber e Júnior; Galeano, Rogério e Zinho; Alex (Arilson); Paulo Nunes (Almir) e Oséas (Pedrinho)
Técnico: Luiz Felipe Scolari
CRUZEIRO: Paulo César; Gustavo, Marcelo Djian, Wilson Gottardo e Gilberto; Valdir, Ricardinho e Marcos Paulo; Bentinho (Caio), Marcelo Ramos e Elivelton (Giovanne)
Técnico: Levir Culpi