Foi a primeira final que o meu mais velho pôde assistir. Por obra do LANCE! onde eu trabalhava, meu colega José Luiz Portella conseguiu um lugar para meu Luca, 9 anos, num camarote para uma reportagem do jornal: os filhos dos colunistas palmeirenses poderiam estar no estádio para ver o primeiro título deles (sem contar a Série B que não contamos).
A felicidade suprema naquele maio de 2008, depois da vitória no jogo de ida por 1 a 0 em Campinas, gol de Kléber Gladiador, foi a cada um dos cinco gols do Palmeiras (que vestia gloriosas meias brancas) eu poder me levantar da cadeira na Rádio Bandeirantes e, da cabine, colocar o corpo para fora e, ao mesmo tempo, ver aquele então loirinho olhar pra cima e celebrar os cinco gols narrados pelo José Silvério.
Ele e o caçula Gabriel sempre estiveram comigo. Mesmo muitas vezes fisicamente distantes. Ou, naquele momento, a um andar de diferença.
Foi 5 a 0. Palmeiras campeão paulista de 2008. A maior goleada em uma final de Paulistão. Abaixo, o texto que publiquei na edição do LANCE! de segunda-feira.
– Vamos ganhar, Porco!
Era o grito de todo o Palestra Italia naquela que seria a última bola do empate com a Portuguesa, na fase inicial do campeonato. Ela e a sorte foram lançadas até Jorge Preá fazer o gol que pareceu pintar de vez o SP-08 de verde.
Um gol que o Palestra cantou antes de a bola ser levantada. Não era torcida, parecia certeza; estava escrito nas oito estrelas do escudo que fica atrás daquela meta.
Pressentimento confirmado com o toque redentor de Preá.
Antecedido por uma comunhão emocionante da arquibancada com o time.
Seguido de uma das mais tocantes celebrações vistas no Palestra, com jogadores, comissão técnica e torcida correndo cada um para um lado diferente.
Ou melhor: todos para o mesmo lado. Para cima. Para o Palmeiras.
Confiança e vitória de um time enorme que volta a pensar grande. O clube investiu o pouco que tinha (e o muito que não tinha) para montar um elenco bom e caro. Fez uma tabelinha com uma parceira que relembra a Via Láctea montada pela Parmalat.
Aquela que acabou com a fila de 16 anos sem títulos, em 1993. Constelação treinada pelo mesmo Luxemburgo que dirigiu a melhor campanha da história do profissionalismo, ganhando o último caneco paulista, em 1996.
Ele foi o escolhido para fazer o clube voltar a jogar grande. Mesmo começando pequeno. Na sétima rodada, quando era apenas o 14º. colocado, depois de um 3 x 0 doído para o Guaratinguetá, Luxemburgo falava no vestiário como se tivesse goleado:
– O palmeirense ainda vai sorrir com esse elenco.
Dito e jogado. A torcida cantou e vibrou com Valdivia, o chileno mais brasileiro; aplaudiu uma linha atacante de raça com Alex Mineiro e Kléber (pedido do técnico que deu jogo tanto quanto o neovolante Léo Lima); confiou na defesa de Pierre, Gustavo e Henrique.
Mas para fazer o Palestra ser campeão como Palmeiras era preciso resgatar uma bandeira. Craque que fez a América e foi Verdão até na Série B. Marco singular, mas com nome no plural. Também por ser um camisa 1 que veste a número 12. Talvez por tantas vezes jogar por todos os 11, e de sempre torcer como todos os tantos que jogam nas arquibancadas.
Tão bonita foi a festa que Luxemburgo, em sua melhor mexida no Palmeiras, trocou os goleiros e o bastão: tirou Marcos e colocou Diego para os dois se abraçarem e manterem a tradição dos arqueiros palmeirenses. Para os dois ganharem a gratidão do estádio.
Sua santidade Marcos, o anjo-guardião palmeirense, depois de 11 meses parado, voltou à meta na derrota para o Guará. Nem ele achava que fosse a hora certa. Mas foi ganhando condição de jogo. Com ele, todo o Palmeiras. Foram oito vitórias seguidas até a derrota para os pés e mãos são-paulinos. A virada com todo o gás se deu em casa. No palco da confirmação do 22º. estadual contra a brava Ponte Preta. Com a maior goleada da história do profissionalismo.
Com a melhor campanha e o melhor ataque, o melhor time deu a última volta olímpica estadual no velho Palestra. Ele será reformado para em breve sediar os jogos de um antigo campeão. De espírito jovem como o vovô Marcos que ergueu a taça que ficou em ótimos pés. E que tanto merecia ser erguida pelas melhores mãos.