Quanto foi? Quando foi? Onde foi? Quem foi?
Não importa. Muito menos contra quem foi.
O que vale é que foi. E será sempre a favor.
Muito provavelmente o avô não sabe quais são as músicas do neto. Nem como ele faz para escutar. O que ele vê na TV – se é que vê TV. O que tanto ele mexe no celular!? Que língua ele está falando? Como é que pode responder assim para o pai? Como que esse menino nem responde para a mãe!
Eu não conheço os amigos dele. Eu não sei qual é o mundo dele.
O que a gente sabe é que esse jogo eles não vão esquecer. Ou melhor. Até vão. O gol. A partida. O placar. O campeonato. Eles vão misturar tudo no futuro. Vão ser até mais lindos, heróicos os momentos. A memória é seletiva.
A geração, nem sempre. Mas tem algo aí que é legado. Desde a concepção. Qual a chance de o avô não ter falado com esse bebê no colo todas as conquistas reais e irreais do time da família? Essa criança vai crescer talvez nem sabendo de onde o avô veio. Mas eles sabem para onde vão todos os jogos da paixão hereditária. Genética. Familiar.
Quem não gosta vai achar que é exagero. Tudo isso por causa de um jogo?
Não. Tudo isso é amor. É sangue. Família. Tradição. História.
Vai de geração a geração. Mesmo que seja geração espontânea, mesmo que o avô tenha virado torcedor vindo de outro credo.
Isso não é só futebol. É uma camisa. Cor. Distintivo. Nação. Família.
Esses dois têm décadas de distância. Esses dois são um só pela emoção infantil. Pueril. De berço.
Esse avô sonhava mesmo com esse tempo, o sorriso, os abraços.
Meu mais velho e meu caçula são muito família e muito se deve à família que é o Palmeiras. Muito do que sabem aprenderam por abraçar o Nonno deles em cada gol nosso. Em ser abraçado por ele em cada gol dos outros.
O avô deles adorava falar de tudo. E principalmente de Palmeiras. Não sei se um dia serei avô. Não sei se um dia meus netos serão Palmeiras. Mas se uma tarde eu puder sentir com eles o que já sinto a cada abraço de gol com meus filhos e meu amor que tem olhos e coração verde e uma filhinha que dorme com camisetas do Palmeiras, a cada grito de gol, a cada Whatsapp de gol, a cada silêncio de gol contra, a cada PQP de gol a favor ou contra da SEP, eu vou saber que posso não ter educado tão bem os meus. Mas se eles forem nossos eu já serei o que sou. O cara mais velho que borra os óculos só de saber que a minha alegria agora é nossa.
Pensando bem, é mesmo um exagero. Amor é exagerado. Ele é gerado. Não tem ex.
(Este texto não tem clube)