- Giuseppe! A partir de agora você não pode mais se chamar Giuseppe. Ou você encontra um nome em português que não tenha a ver com a Itália contra quem estamos em guerra ou vou te tirar da escola, vou confiscar seus bens, e não vou te deixar encontrar com seus amigos onde você quiser, seu traidor quinta-coluna!
- Mas…
- Não tem mais. Ou você muda o seu nome de batismo ou não tem mais jogo pra você.
- Mas…
- Seu fascista! Totalitário! Precisamos fazer este país para as maiorias! Ou as minorias se ajustam ou elas desaparecem!
- Mas o senhor também não é a favor da ditadura que está aqui no Brasil há 12 anos e…
- Cala a boca! Aqui quem manda sou eu! Não é ditadura! Só desapareceram até agora alguns bandidos, ladrões de banco, sequestradores, marginais. Não é ditadura!
- Mas…
- Não tem mais! Ou vou morar na sua casa! Mude já o seu nome! É uma ordem! Em nome da pátria e dos homens de bem deste país!
- Mas…
- Já! Ou eu metralho essa giuseppada, esses carcamanos, essa italianada!
- Mas o senhor está sendo mais intolerante que o fascismo que eu também não defendo! Isso é uma violência moral da parte de você. Por que eu preciso mudar meu nome de batismo?
- Giuseppe, seu nome é muito feio! Não faz meu tipo! Vai ter que mudar! Isto aqui é uma guerra. Podem morrer alguns inocentes, mas desde que vão uns 30 mil junto, tá valendo! Vocês perderam agora em 1942! Por um Brasil acima de tudo, você precisa mudar seu nome, Giuseppe!
- Eu vou ter que aceitar. Entendi. Vou acabar tendo que aturar esta violência para poder continuar sendo o que sou. Mudem meu nome, mas não a minha essência… OK… Posso me chamar José?
- Desde que seja brasileiro! E não quero mais saber de trairagem! Vai ter que ter alguém com autoridade pra ir com você no cartório.
- Quem vai comigo registrar meu novo nome é um capitão do Exército… Pode ser?
- Muito bem! Agora sim! Ainda bem que você não foi criado pela avó!
- Capitão Adalberto Mendes. Conhece?
- Ele foi torturador?
- Não. Ele é um capitão que luta pelo que é justo e constitucional: pela tolerância, respeito, educação, história, fraternidade, convivência pacífica e democracia.
- Muito bem. É assim que eu também criei meus filhos para conviverem até com quem não merece!
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