Queria eu estar nas alamedas do Palestra a essa altura da madrugada. Embriagado, comemorar mais uma noite histórica, verde e branca. Infelizmente, não foi o que a vida me reservou dessa vez. Por isso, ocupo a noite profunda a contar-lhes a minha história.
Você, leitor, talvez não saiba, mas eu estou doente. E não doente de Palmeiras. Como sou desde a infância. Tampouco essa doença vai me acompanhar pelo resto da vida. Como o Palmeiras acompanhará.
Trato de despreocupar-lhes, não é grave. É sim uma condição chata e exaustiva. Perdura há mais de mês. Pode durar mais outro. Incomoda e atrapalha meu dia a dia. Me tira o sono, tal qual esse time tantas vezes fez.
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Não deve ter sequelas, nem ficar no meu corpo. Coisas que o Palmeiras já me deu certeza de ter. Mas dói. Sinto dores o dia todo. O remédio alivia e só. Não se preocupem. Mas se quiserem, se compadeçam. É o que me basta dizer.
Se você chegou até aqui, retomo agora o porquê de ter minha ida ao jogo frustrada. Em tempos normais, não iria ao estádio de qualquer forma. Estou a mil quilômetros de São Paulo. Moro (por enquanto) em Brasília. Me mudaria esse mês à capital paulista.
Paulistano de nascença, sempre quis voltar ao meu berço. Realizaria esse sonho nesta semana. Realizarei em algumas das próximas que vierem. Não pude viajar. Recomendação médica. E nem gostaria, no estado que estou, de mudar de estado.
Apesar de estar ansioso para tal, quero chegar à Terra da Garoa em condições de passar uma madrugada no cruzamento da Caraíbas sem me queixar de mal estar. Gostaria que tivesse sido nesta quarta-feira de Libertadores. Ficou para a próxima.
E que bom que há próxima. Para esse esquadrão histórico, parece que nunca deixará de haver. Em especial em noites de Copa, há sempre mais. E melhor. Como se todos os feitos fossem menores do que os que estão por vir.
Assisti de longe a essa classificação improvável, impensável e incalculável. Emocionei-me ao final. Senti por não poder ter acendido sinalizadores ou mesmo a lanterna do celular, para participar da festa. Senti por não poder estar.
Estiveram ao meu lado meus irmãos, palmeirenses convertidos por mim. Também, meu pai. O são-paulino mais pé quente para o lado verde que conheço. Vibramos juntos com a defesa de Weverton e o penal decisivo de Murilo. É bom tê-los aqui.
De longe, me senti representado pelas quarenta mil vozes, que entoavam cânticos de apoio sem parar. O décimo segundo jogador, ou melhor o décimo primeiro e até mesmo o décimo, porque tínhamos menos em campo. Os milhões espalhados pelo Brasil. Ao final, são um só. Palmeiras.
O Palmeiras é a doença que me faz esquecer do resto. Naqueles mais de noventa minutos de euforia, anestesia o que sinto de ruim. Cura e remedia sem eu nem perceber.
Uma doença me impediu de estar contigo, Palmeiras. Em breve, estarei. Assim como você me ensinou, suportar até o fim. Essa já é uma batalha vencida. Me resta ter cabeça fria para aguentar e, como ti, lutar sem parar.
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