Edu Dracena é um dos melhores zagueiros deste século no Brasil. Um dos maiores vencedores em qualquer tempo no país. Um dos profissionais mais sérios e respeitáveis que conheci em 28 anos como jornalista esportivo.
Carreira que abracei em junho de 1990. Dois meses depois da partida de Vagner Bacharel, um dos meus maiores ídolos nos anos de chumbo e ferro do Palmeiras sem títulos. Grande zagueiro de excelente dupla com Luís Pereira em 1983-84, e capitão até 1987. Aos 39 minutos no Allianz Parque chuvoso já estava 1 x 0 merecidamente para o líder do BR-18 em jogo tecnicamente abaixo da média – ou na média do futebol dos últimos anos; escanteio pela direita para Dudu cobrar. Em 1983, quando a bola saía pra escanteio como saiu neste sábado, o palmeirense chegava a celebrar a cobrança de corner de Jorginho Putinatti ou para Luís Pereira ou para o Bacharel – quando não pros dois. Era um lance tão forte como seria no BR-16 com Mina e Vítor Hugo no Porco Louco campeão do mesmo Cuca que recuperou o Santos no returno de 2018. Tão eficiente como tem sido o time de Felipão no futebol brasileiro tão sofrido e muitas vezes sofrível.
Quando Dudu bateu pro meio da área, aos 39, lá subiu Edu Dracena. O zagueiro pela esquerda de verde. A mesma posição de Vagner, de 1983 a 1987. Com a mesma eficiência e caráter de Bacharel. Com a mesma capacidade de cabeceio. A testada sem defesa. O primeiro gol de Edu em 107 jogos pelo Palmeiras.
Justo contra o Santos onde tanto venceu na carreira vitoriosa. Lei do Ex implacável. No Camarote Fanzone, no terceiro andar do Allianz Parque, atrás daquela meta do Gol Norte, Renata chorou. Era o primeiro jogo dela em estádio desde a morte do marido, em 1990. A foto acima é da filha Tayane. Mãe da Mayara que nasceu no mesmo 11 de dezembro do avô Vagner. A menina mora no Rio de Janeiro. Mas é Palmeiras como o tio Júnior. Que tem a voz do pai. Corpo de atleta. E o mesmo coração verde que, segundo ele, não escolheu o Palmeiras. “O Palmeiras me escolheu.” A família de Bacharel veio ao estádio para ver o gol do quarto-zagueiro (como se dizia então) como o pai. Depois da neta entrar em campo de mãos dadas com Dudu, que marcou o primeiro gol, aos 13, de um ótimo primeiro tempo alviverde (que tinha como ser melhor), contra um Santos irreconhecível (que não tinha como ser pior). De um clássico de muitos gols, mais gols mesmo do que futebol entre o líder e o vice do returno.
Na segunda etapa, em 10 minutos depois de um Palmeiras mais perigoso é melhor, o Santos empatou depois das boas mexidas de Cuca, com Copete marcando o primeiro numa rara falha do mesmo Dracena, aos 9, e Dodô empatando em outra infelicidade da zaga, aos 19. O Palmeiras sentiu o crescimento santista. Felipão mandou Thiago Santos de novo para a lateral-direita, Felipe Melo trancando a área, adiantou Jean, e parecia que o empate, embora frustrante, era o possível para o desgaste do líder contra o vice do returno.
Mas era noite de resgates alviverdes. Victor Luís que tanto merece elogios e chances chutou de longe uma falta no gramado molhado. Vanderlei que não merece críticas falhou e o Palmeiras desempatou aos 26, quando mais crescia o Santos. Na sequência a bola passou por toda a área alviverde e não entrou.
Coisa de predestinado. De líder. De ainda mais favorito.
E, acredito, do Bacharel lá de cima tirando da meta do Weverton.
A mulher Renata não merecia ver o empate do rival. Dracena merecia a vitória com gol dele antes da falha. A netinha de Vagner tinha que sair do Allianz Parque como pé quente.
Porque o filho que foi escolhido pelo Palmeiras tinha de ser acolhido com mais um jogo inesquecível contra o Santos. Como Júnior viu em 2015 na final da Copa do Brasil. Ou não viu quando viu que era Prass pra bater o pênalti decisivo. Júnior Antunes estava ajoelhado. Ele e milhões. E poucos mereceram tanto aquele título e esta vitória como ele e a família.
Como poucos em 104 anos de Palestra mereciam tanto ser campeões como o capitão Bacharel.
Campeão sem faixa.
Como falou o Junior, na véspera, de Finados, em vídeo para O Nosso Palestra : "hoje é dia de saudar os que amamos para que eles venham nos visitar por alguns instantes".
E o velho veio na noite seguinte, Júnior. Como um sonho, Bacharel Subiu junto com o Edu e indicou o gol que tanto mereceu o Dracena.
E todos nós.