Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras
De ouro? De compensado? Qual seria o mundo dos sonhos. O aras da família? O fliperama do barzinho? Sonhar com o lanche no intervalo ou não morrer com a consciência dolorida pela fome alheia? Chinelo no cotovelo, jogando bola, feliz. Escolhendo o brinquedo preferido da vitrine de luxo. Qual a essência? Onde mora a felicidade? No morro ou no condomínio?
Doze mil pelo vinho, doze milhões por um grupo. Quantas cestas básicas? Quantas bases? Quantos meninos. Quantos sonhos. Quantos pés descalços. Fibra no coração, vento no bolso. Volume nas mãos, feio no coração. O futebol é o corpo e o dinheiro é o tumor maligno? Ou a panaceia machadiana dos males? Em qual ponto da canção, a Facção Central soube quem estava certo? Nunca!
Lá de cima, no castelo de concreto, vemos a felicidade dos sem muros ou barreiras, dos sem vigia com walkie talkie, câmera de vídeo, porrete, cavalo, escudo. Dos que pouco tem, mas tem amor na escassez. É ser como um hamster correndo na gaiola e vendo o mundo todo nascer entre grades. É tão pouco. É se sentir mercadoria. Quero a bandeira do meu time, quero gritar gol na arquibancada, quero beber na rua, quero fazer carnaval do meu amor.
Sonho com a carta de alforria da minha Alcatraz de ouro com a paz sem vigia e sem muro de tijolo. Sonhamos com o espaço pro coração. Sonhamos em não ter o mundo nas mãos, mas ter as mãos livre abraçando o mundo verde todo. Em ver nos olhos dos nossos, o brilho dos que correm de silver tape na chuteira, dos que sonham em ter na vida o que os de cá tem em um mês. Um dia. Uma frase.
Presos às suas limitações, o ouro e o compensado incomodam. Fazem sofrer. Causam no sujeito o desejo de estar do outro lado. Pobre demais. Rico demais. Fechado demais. Disposto demais. A alforria está na metade dessa highway. Não sonhamos com o retorno da mingua, mas vagamos acordados quando sentíamos mais. Quando os olhos não viam por cima, mas viam por dentro. Viam com o coração. Viam sentindo cada segundo.
De ouro ou compensado, a gente só bater na tua porta e não achar que estamos em Alcatraz.