Foto de César Greco/Ag. Palmeiras
Em um restaurante da Pompeia, um grupo de rapazes de meia idade, roupas com temas futebolísticos, algumas pastas nas mãos, a credencial de uma empresa jornalística. Eles se acomodam a pedem uma porção de camarão à milanesa. Enquanto aguardam, a conversa ficou tão intensa que meus ouvidos, mesmo a contragosto, ouviram de tudo um pouco. A começar quando..
Um rapaz que logo me fez lembrar o melhor dos ranzinzas, dizia achar uma atitude pífia e patética quando os clubes brasileiros não tinham o discernimento de focalizar uma competição e manter seus jogadores em condições importantes nos aspectos físicos. Com certa indignação e rosto rubro de raiva, ele vociferava: “quem quer tudo, termina o ano de mãos abananando. Ainda mais com um orçamento desses. O mecenato não dura pra sempre”.
Em consonância, o mais velho da turma, de perfil opositor, o rapaz dizia que o Palmeiras era o retrocesso em forma de clube. Ignorando questões da medicina moderna, trocando qualidade de futebol por um conceito antigo, trocando o rumo ao progresso por um retorno ao que ele chamou de “crendice, ligações afetivas com coisas de décadas atrás”. O desdém era evidente.
“Mais camarão, senhores?”
“Não, traz um torresminho, por favor”
Era noite fria em São Paulo. A ainda fervilhante saída de Roger Machado não deixava que eles jantassem em paz. A chegada de um velho conhecido parecia pólvora. Eles não se aguentavam.
De discurso forte, o terceiro rapaz sinalizava um ataque do miocárdio em poucos minutos. Inconformado com Scolari, o home cujos olhos precisavam de ajuda para ver, cravava: estão fadados ao fracasso, não tem jeito. É o túmulo do futebol no Palmeiras. Eles não podem viver dessa “seita por uma história do passado”. Podem esperar um futebol ridículo, antiquado, ultrapassado. Não haverá a mágica da sorte que resolveu as coisas para eles em 2012. “O futebol mudou, evoluiu”.
Sensato, o últimos dos senhores mostrava resistência à situação. Contrapunha números do novo treinador em sua vida asiática, explicava possíveis conceitos. Duas frases depois, era interrompido por “acreditar nessa insanidade”. Ciente do que via, da má vontade de seus companheiros, preferiu esperar. E torcer.
“Amigo, fecha pra nós!
Senhor, ficou 94,00”.
Três jogos depois, os argumentos rareavam, eles buscavam opções. Vitórias e sem ser vazado, o time do passado fazia o que era preciso. À sua maneira. Como eles diziam de antecedência, aquele time de Machado não servia por falta de resultado. Ganhar era preciso. O velho vencia. E ouvia: não basta, futebol não é só isso, é uma construção taticosocifisiologzzzzzzz”.
Duas classificações nos dois mata matas depois, eles retornam aos meus ouvidos e com torcedores ao lado e perdem-se novamente nos discursos. A série de vitórias? Adversários ruins. Defesa sem ser vazada: soma de fatores de sorte. Vibração dos atletas? Motivação natural, nada diferente ou especial. Nada que remeta à crendice de quem tanto torce e sofre. Aliás, o uso de muitos volantes, de um 9 grosso. Isso sim, sempre à mão para discutir. Insistentemente.
Em outros papos por aí, nada de diferente, ainda busca-se a imagem de um reserva com rosto de tensão pelo jogo decisivo e transformam-no em ases de uma crise de relacionamento. Pelo menos uma que eles imaginam que exista. Chamam a vitória que leva o time a uma semifinal como “feia”. Sempre soube, seja na padaria ou na minha casa, que quem desdenha, quer comprar. E nem é pão.
Desavisados e mau influenciados, torcedores caem no conto da duvida, da falta de confiança. Unem discursos com o ódio dos que eles fazem e reverberam. Eles não entendem como tanta gente apoie com tanta fé e que tudo aconteça bem, eles veem o futebol de forma extremamente objetiva. E os livros ensinaram, e já faz tempo, a objetividade é burra.
Vencedor, consistente, calmo e focado, e obviamente fora do comum, o Palmeiras de Felipão se forja em meio uma onda quase inabalável de confiança. De união e amor ao que querem, sem crises de desespero alheio. Criam-se relações de afeto entre todos os que torcem e os que ganham por eles. Enquanto eles brigam para acharem respostas, o treinador encontra caminhos. E abraços fraternais.
Boa noite, senhores! Querem pedir algo?
“Uma porção de camar, camaaaaar, é, digo, de motivos para problematizar uma vitória. Você tem?