Há 46 anos eu deixava o Morumbi num 20 de fevereiro no cangote do meu pai celebrando o título brasileiro de 1973, no empate sem gols contra o dono da casa. Zero a zero porque o goleiro tricolor Valdir Peres fechou o gol. Pelo menos é o que eu não via nas cadeiras, já que do baixo dos meus 7 anos eu não tinha altura para ver os lances quando todos ficavam em pé.
Ademir da Guia regia a Segunda Academia bicampeã em 1972-73. Ela não seria tri porque seis dos acadêmicos de Brandão foram logo chamados por Zagallo para o Brasil na Copa-74. O que fez o Palmeiras jogar toda a Libertadores com um time misto. Pior: todo o Brasileiro de 1974 sem seis titulares.
O Divino fazia milagres. Mas nem tanto. Gols também não eram tantos. Assumidamente. Na casa palmeirense acabaram não sendo outros tantos. Porque quando estreou, em 1962, logo depois do primeiro jogo dele no Palestra o estádio veio abaixo para ser reerguido dois anos depois como Jardim Suspenso. De 1964 até 1969 não se jogava à noite por falta de iluminação. A partir de 1970, concluído o Morumbi, mais jogos eram disputados lá. Como ainda se jogava muito no Pacaembu, em um gramado menos pior que o do velho Palestra. Incomparável com o novo gramado de 2020.
Também por isso Ademir não fez tantos gols na casa verde. Até o último, em 1976, foram 32 gols.
Os mesmos 32 marcados por Dudu desde 2015. Xará da outra estátua esmeraldina. O Dudu das duas Academias. Seu Olegário. O Bom Velhinho que fez a dupla divina com Ademir, de 1964 a 1976.
Dudu vestiu a camisa 300 com 32 gols. Saiu do Allianz Parque ultrapassando o Divino com o gol da vitória que merecia ser maior. Dudu 33 gols. No belo passe de Willian fez 1 a 0 na primeira etapa. Na segunda foi derrubado por Romércio. Pênalti que ele bateu, o goleiro adiantou, mas não adiantou. Não foi repetida a cobrança. Apenas a cobrança que será reiterada sobre Dudu. Pedem que ele bata os pênaltis até errar e ser batido e rebatido e debatido mais uma vez.
Um a zero foi pouco pelo que Dudu fez. Pelo que bem entrou Gabriel Veron. Pelo que bem voltou Bruno Henrique. Pelo Menino que merece mais chances pela lateral. Pelo Palmeiras que teve boas tramas com a bola no chão e boas retomadas de bola lá na frente.
Mas foi justo pelo Veiga que ainda não deslancha. Por alguns desajustes lá atrás. Pelos méritos do Guarani que tem bons predicados contra um Palmeiras ainda instável.
A vitória saiu dos pés do maior artilheiro do Allianz Parque. Numa noite para celebrar marcas e entender que números nem sempre mostram tudo. Tamanho não é documento. Para um garoto baixinho como eu era há 46 anos. Para um menino baixinho que são outros 300 em 2020.
Mas nomes como Dudu e Ademir não precisam se justificar no Palmeiras.