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Ele pode até não saber, mas a gente já sabia

Ele pode até não saber, mas a gente já sabia

Foto: César Greco

Ele tem uma luz diferente. Ele é especial. A gente já sabia. Via. Saltava aos olhos a aura de bençãos que rondavam a camisa 5 de tanta história. Talvez fosse, no entanto, empolgação de um povo em busca de ídolos. Às vésperas da final, escrevíamos um material sobre as superstições do Palmeiras e seu meião branco das finais. Robério de Ogum, vidente, falava sobre energias e fatores extra-terrenos.

Sem mais nem menos, Robério pausou a conversa e disse: ‘Vocês tem um menino no time, né?’ Respondemos que eram dois, Patrick e Gabriel. Ele, de pronto, fala: ‘Patrick. É esse menino que eu falo’. Surpresos, quisemos entender o porque da citação. Foi nesse momento que uma frase nos fez arrepiar e imaginar o que viria ao longo da decisão.

‘É um jogador que entra em campo com uma força espiritual inacreditável. O Patrick de Paula tem uma coisa assim, incrível. Sozinho ele não é a solução, mas ele leva uma força extraordinária, uma vibração especial, ele nasceu pra isso’.

Impactados com a reação exaltada do vidente, procuramos mais relatos. De companheiros de equipe, ouvimos que se tratava de alguém de postura leve, amor nas palavras, humildade nos gestos, sensibilidade com os mais próximos e muito respeito com os desconhecidos. Dos mais velhos que o conhecem, em uníssono, a explicação era que morava nesses um e alguns muito metros, a luz em pessoa.

Aos 20 anos, com a vida sofrida nos olhos rasos e brilhantes, o menino da Favela não tem medo. Não tem receio de ninguém. Sensitivo, parece desfilar em campo enquanto o resto se esforça. O futebol é simples pra De Paula, tudo o que a jornada não havia sido. Da casa modesta, da falta de recursos, do preconceito e do futuro sem caminhos para a marca da cal do maior campeão do Brasil.

Santa Margarida é a Pompéia. O campinho é o sintético. Com sangue e funk nas veias, ele não se importa. Talvez nem entenda o tamanho do que faz. Cobrou, o mundo veio abaixo e ele sorria como se estivesse no bairro. Chorou, depois, incrédulo, mas sorrindo no canto da boca. Iluminado. Abençoado. Preparado para ser o novo, o jovem e talentoso Palmeiras. Patrick ainda se acha menino, mas todo mundo já sabe que ninguém vai poder atrasar quem nasceu pra vencer.