Tudo começa (ou acaba…) quando eram jogados alguns minutos do segundo tempo de uma partida dessas, cuja relevância se dá por alguns lances que marcam por átimos de segundos onde a razão foge…
Foi assim com Borja.
Um jogo mal jogado, protestos vindos da torcida, uma substituição que não se concorda, um bico num copinho de água (que está ali colocado justamente pra isso, para que se dê um bico…). Pronto: começava o calvário de um jogador que veio para ser a solução da camisa 9 do Palmeiras.
Dali então vem seca de gols, banco de reserva, ostracismo, desconfiança e, agora, de último, esquecimento. Borja não é mais notado sequer no banco de reservas do Palmeiras, não é lembrado nem para beber isotônico.
A última vez que o vi de perto, pela Libertadores, em uma Arena lotada de gentes ávidas por sonhos e conquistas, com todos os corações batendo a galopes, no banco do Palmeiras Borja era apenas desolação. Seu peito não transbordava, seu olhar não brilhava, suas pernas não balançavam, sua ambição não existia, a possibilidade de alguma alegria, no seu caso, impossível.
Vendo tudo isso, cabe a pergunta:
O que acontece com o moço que veio para ser “o cara” no Palmeiras?
Oras…
O futebol é cruel. Também faz parte de toda a frieza do mundo onde está inserido.
Sendo assim, não haverá tempo de procurar saber o que se passa com o rapaz que nesse momento da vida é atacante. Sua vida não foi diferente do muito que se vê por aqui.
Borja nasceu em Tierralta, uma cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, em janeiro de 1993, em uma Colômbia em convulsão. Um país entregue aos cartéis do tráfico de drogas, para milícias urbanas, Farc e tudo mais. Teve todas as dificuldades que meninos pobres têm para crescer em países nessas condições e viu no futebol as mesmas chances e possibilidades.
Surgiu no Deportivo Cúcuta em 2011, rodou por times pequenos da Colômbia, outros da Itália e voltou para fazer um bom campeonato colombiano em 2016 jogando pelo Cortuluá, o que chamou atenção do Atlético Nacional onde de fato brilhou, onde arrebentou na Libertadores que todos nós sabemos. No começo desse ano veio para o Palmeiras.
Sua chegada a São Paulo teve no aeroporto uma recepção de pop star. Torcida, flashes, televisões, histeria e frenesi coletivo. A estreia teve gol contra a Ferroviária no primeiro toque na bola. Tudo parecia ir bem. Até veio tudo que disse no começo desse texto.
Borja não faz mais gols. Não consegue mais jogar, não consegue reagir e o que acontece também não é nenhuma novidade.
Falamos aqui de um rapaz de 24 anos de idade que até o meio do ano passado não era conhecido nem por nós palmeirenses, nem por torcedores colombianos, nem ninguém. Seria ele mais um anônimo a passar pelo mundo se não fosse o punhado de gols que fez na Libertadores. Isso mudou sua vida.
Vieram os holofotes, a grana, a fama, a mudança para outro país com um contrato milionário, mas a pergunta que fica é outra:
E o homem? A pessoa, o ser humano, essas coisas que não tão muito na moda de se preocupar… Quem pensa nisso?
Em algum momento, será que alguém procurou saber o que realmente acontece com Borja? Será que algum amigo bateu à sua porta com um pedaço de bolo para tomar um café e saber da sua vida? Qual é o cuidado que se tem com um rapaz de 24 anos que claramente está com dificuldades para fazer o que mais sabe na vida?
Em um tempo tudo parece cada vez mais duro e frio, pessoas sensíveis vão sofrer cada vez mais com o recrudescimento das coisas. O mundo não encontrará tempo para cuidar do que estes sentem. Não sei se é o caso de Borja, tudo que faço aqui são conjecturas. Todavia, sugiro ao torcedor Palmeirense que reflita um pouco sobre o que acontece com Miguel Borja.
Decerto que ele não se esqueceu de jogar futebol. Então não vamos esquecer dele também.