Queria ter. Queria viver. Queria fazer. Queria mudar. Queria ganhar. Queria não perder. Queria sorrir. Queria abraçar. Queria fechar a Paulista. Queria não fechar a cara. Queria aquele penâlti. Queria lealdade. Queria Felipão. Queria o mundo. Queria não chorar em Abril, mas que mal há se fosse pra soluçar em Novembro. De amor. Tudo por amor. O 2018 é só mais um, mas a inscrição sobre a caixa que guardará o ano alviverde será um enorme livro de memórias.
Redigimos sobre Roger, na virada de um ano melancólico que tinha nos fogos e no relógio, um aliado por renovação. Brindamos janeiro com taça de cristal, elenco pomposo, Scarpa na cereja desse bolo. Quem deteria aquele poder todo? O acaso, como não. Se na letra em que ele vai "nos proteger enquanto eu andar distraído", na vida, ele derrubou quem se atentou demais para o pós e falhou no presente. Interpelado por vozes divinamente sujas, mas o resto é fado. Perdemos.
E dói.
Queria ter sofrido menos.
Resolvemos torcer ainda mais.
Deveria ter arriscado mais!, ele dizem no disco de 2002, e até errado mais, ter feito o que eu, você e quase todo mundo duvidou que fosse a melhor das idéias. O líder geral da América sem comando? O mais rico do país, de novo, com um trabalho interrompido? Arriscar mais. Buscar no passado afetivo um conforto é sempre ideia sugestiva para uma lápide ressentida, mas foi panaceia para um Palmeiras à deriva. Abraçamos todos e das vozes, música, uma vez mais.
Olhos fechados para o mau agouro que chegava por todos os lados, um tiroteio impiedoso em círculos no alvo imóvel, de bigodes e resiliência. Unimos o que tinhamos de força e rebatemos. Vencemos sem brilho. Brilhamos na eficácia. Eficiente e sisudo, brigou em todas, discutiu cada minuto, perdeu quando não podia mais se dividir. Esfacelou no maior sonho, em uma noite que celebrou muito o que era aquela união, mas que foi pra casa triste. Não descrente, mas um pouco triste.
Como é Epitáfio. A música. A frase na lápide.
Triste pela mensagem, inspiradora na intenção.
Basta saber usar.
Do lado de fora dos muros, pequenos anjos fizeram a jornada significar muito mais. Murilo, o coração mais verde da Pompéia, o Gabriel, que segue firme na briga para vencer o câncer e vestir a 3 do alviverde. A Luciana, que mora com Deus e faz aquela pizzada com os tantos que agora vestem verde do lado de lá. Vocês fazem a missão futebol se tornar uma lição de vida, afinal:
"Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier"
Fechamos o ciclo com uma volta no Parque. Lá, no nosso. Nossos caras com o Deca em mãos. Gente que chorava por ser a primeira, gente que fingia sobriedade por já ter visto outras. Gente que mudou de vida pra estar alí. Gente que torceu o nariz, mas que se entregou ao que importava. Gente que vai olhar pro céu com o relógio em mãos e lembrar que valeu a pena. E que em 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, tem mais um ano de Palmeiras pra viver.
Feliz 2019!