Uma semana depois de ganhar o SP-72 invicto contra o São Paulo que foi vice estadual também invicto, o Palmeiras estreou no BR-72. Antes disso, na tarde de quinta-feira, em Rio Claro, o campeão paulista no ano do Sesquicentenário da Independência do Brasil venceu o Velo Clube por 4 a 1, em amistoso de 7 de Setembro.
Cumprido o dever cívico e esportivo, o Palmeiras foi à luta no Nacional. Com o presidente Paschoal Giuliano sepultando o sonho de ampliação e reforma do Palestra Italia. Não havia dinheiro para tanto. E mesmo para reforçar o elenco.
O clube decidira ganhar menos no jogo decisivo do Paulista de 1972, exercendo o mando do Choque-Rei no Pacaembu (para até 70 mil pagantes), e não no Morumbi, onde desde janeiro de 1970 cabiam até 150 mil pagantes. “O dinheiro passa, os títulos ficam”, defendeu (muito bem) Giuliano. Também porque no jogo decisivo do SP-71 a arbitragem foi péssima, houve invasão de torcedores do dono da casa no final e a presença do governador da ditadura (e ex-presidente são-paulino) no gramado não deixavam o estádio tão neutro assim…
O dinheiro que não havia para a cara reforma do Palestra também não tinha para contratações. O que não era problema para o velho mestre Oswaldo Brandão: “o elenco é bom. Não precisamos de reforços”.
Ele ainda não sabia. Mas imaginava. Aquele elenco curto, de poucas opções de banco, tinha uma escalação excelente. Histórica até para os rivais. Em dois anos teria seis daqueles 11 titulares de 1972 convocados para a Copa de 1974. A rima que era uma Seleção: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. A Segunda Academia em seu primeiro ano.
Um time que só tinha perdido um jogo na temporada, na África do Sul, em junho. Mais 34 vitórias e 14 empates até a estreia no BR-72, no Alto da Glória. Uma equipe campeã em janeiro-fevereiro do Torneio de Mar del Plata (vencendo o Boca Juniors e metendo 5 a 1 no Peñarol), campeã do Torneio Laudo Natel logo depois (vencendo nos pênaltis o São Paulo e ganhando a decisão da Portuguesa), ainda campeã do Torneio de Zaragoza (contra o time da casa e o Hamburgo), quando estreou outro reforço importante para o BR-72: Ronaldo, atacante campeão brasileiro em 1971 pelo Atlético Mineiro.
Amistosos difíceis também foram superados em 1972, como o empate sem gols contra a Seleção Olímpica Brasileira, e vitórias na Europa sobre Fenerbahçe, Galatasaray e Milan. A goleada em São Paulo de 7 a 0 no Steua Bucarest é outra prova da excelência da equipe montada por Brandão, que voltara ao Palmeiras em novembro de 1971, ainda na penúltima fase do Brasileiro.
O velho mestre entendia que, mesmo com tantos jogos e viagens, o time titular aguentaria o tranco. Também porque muito bem treinado fisicamente por Hélio Maffia. Dudu e Ademir da Guia, remanescentes da Primeira Academia de 1965, concordam também nisso: “nunca estivemos tão bem preparados fisicamente como na Segunda Academia”.
Também por isso pouco jogaram os reservas durante o BR-72. Não se fazia rodízio de titulares. Os elencos eram menores. Em quantidade. E mesmo em qualidade.
Para a meta, Raul Marcel (das seleções de base do Brasil) e Neuri eram os goleiros opções ao titularíssimo do Palmeiras e do Brasil – Leão. O versátil João Carlos era o reserva imediato de Eurico na lateral-direita. Mas também jogava na outra lateral e, se preciso, na zaga. “Ele e o Alfredo também podem ser volantes”, explicava e confiava Brandão. O técnico contava com o jovem Beliato para o miolo de zaga. Mas não foi necessário. Polaco (que havia chegado do Corinthians em 1971 para ser titular) desde fevereiro era reserva de Alfredo. E assim seria até deixar o clube. O eficiente Celso, outro das seleções de base brasileiras, era o reserva para a lateral-esquerda. Zeca também jogava nos dois lados.
Zé Carlos era a correta opção para Dudu na cabeça da área. Mas Ademir da Guia também podia jogar ali, com o argentino Madurga (a mais cara contratação para 1972 – 600 mil cruzeiros) saindo para o jogo. Titular da seleção albiceleste, ele acabaria titular no BR-72 pela suspensão de César Maluco. Mas deixou o clube em 1973 por não ter espaço na Academia de Brandão.
(Tão Divino era Ademir da Guia que não tinha reserva imediato. Não precisava).
No ataque, Ronaldo que acabara de chegar tanto podia ser ponta-direita como centroavante. O mesmo para Fedato. Pio era reserva de Nei, mas também podia jogar mais atrás, como meia. Bio era o último nome para centroavante.
Bio. Não confundir com Pio.
Para a estreia no BR-72, Ronaldo estava fora por lesão. Dudu, com duas costelas fraturadas na decisão contra o São Paulo (quando jogou por 8 minutos nesse estado!!!), também não viajou ao Paraná. César também ficou em São Paulo para renovar o contrato que terminara antes da final contra o São Paulo. Jogou sem vínculo com o clube só pra ser mais uma vez campeão.
Mas o regulamento da CBD impedia isso no BR-72.
Desfalcado e desgastado, o Palmeiras não estreou bem contra o ótimo time do Coritiba. Perdeu por 1 a 0, gol de Dreyer, aos 24 do segundo tempo. Ele aproveitou de cabeça um cruzamento na área paulista.
Madurga não se achou. Ademir da Guia foi discreto, repetindo a função de primeiro volante que era do parceiro Dudu como na decisão do SP-72. Mas sem emular o desempenho excepcional do jogo do título no Pacaembu, uma semana antes.
Foi a primeira derrota palmeirense em uma partida oficial de campeonato desde 2 de dezembro de 1971, quando foi derrotado pelo Botafogo, no Pacaembu, com gol de Jairzinho. Jogo que acabaria eliminando o Palmeiras da fase final do BR-71.
Derrota que seria descontada com juros e correção futebolística na decisão do BR-72. Repetindo o Palmeiras contra o Botafogo o que fizera no Robertão de 1969.
O campeonato não começava bem para o campeão paulista invicto.
CORITIBA 1 x 0 PALMEIRAS
Campeonato Brasileiro/Primeira Fase
Domingo, 10/setembro (tarde)
Alto da Glória
Curitiba (PR)
Juiz: Nivaldo Santos (RJ)
Renda: Cr$ 73 859
Público: não disponível
PALMEIRAS: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Ademir da Guia e Madurga; Edu (Pio), Leivinha, Fedato e Nei (Zé Carlos).
Técnico: Oswaldo Brandão
Gol: Dreyer 24 do 2