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JG Falcade: 'Eu não queria dormir'

(Arte: Thiago Rocha)
(Arte: Thiago Rocha)

Nunca consegui dormir em véspera de final. Era um ritual sagrado e imutável. Arrumar a mochila, separar todos os meus objetos de sorte, colocar minhas orações em dia, renovar as promessas e falar com aquele lá de cima. Um dia de final sempre me foi o auge. A melhor parte. O mais lindo dos momentos. Copas são impecavelmente emocionantes e finais dependem de garganta. Eu sempre emprestei a minha.

Restam 10 minutos até que o relógio vire e marque o começo de um dia desses que são raros e, na mesma medida de sua imprevisibilidade, belíssimos. Dessa vez, não tem mochila, não tem bandeira, não tem os objetos que me confortam a superstição. Olho ao redor desse texto e não vejo nada. Fecho os olhos e encontro tudo. Não posso te ver, mas te sinto como nunca, Palmeiras.

Sem abri-los, lembrei que o asfalto falava em ritmo e prosa naquele dia 02. Os prédios eram cúmplices da maior celebração de amor que tive a honra de presenciar. Era em estado puro e cristalino. Não se tinha nada ali que não fosse esperança, fé, entrega, desejo e.. amor. Me vem à mente a fala de um senhor, de voz já trêmula e feição experiente: ‘o Palmeiras nunca perde quando está de mãos dadas conosco’.

Guardei como se fosse uma oração. Quando o chute de Jesus subiu, lembrei que não perderíamos, não havia espaço para dar errado – estávamos de mãos dadas. Quando Prass foi pra bola, demos as mãos pra eternidade. O crime perfeito sobre o qual somos suspeitos, ainda que crimes perfeitos não deixem suspeitos, foi alcançar a glória na base da força, grito, garganta, fé. E de tudo o que é incondicional. Como somos.

Daria a vida inteira pra ser campeão do seu lado, cantando por você, intimidando seu adversário e te empurrando com meu incentivo, mas te guiarei com minhas orações, com meu mais sincero e agoniado torcer. Serão milhões de mini arquibancadas espalhadas ao redor desse mundo só pra te sentir, apoiar e fortalecer. Juntos, no capítulo final. No posfácio de um conto de fadas infernal e divino.

Vocês nos deram tanto quando nós esperávamos tão pouco. Vocês superaram dor, doença, descrédito, desserviços. Destemidos. Vocês já exorcizaram um fantasma que mora na marginal, sem número, vocês já deram a trilogia ao campeão do quase, vocês mudaram a obsessão para tranquilidade. Vocês zeraram o desafio. Vocês poderiam ter parado, mas vocês são a nossa melhor versão. Vocês entendem que, ainda que sejamos, sempre diremos:

SEREMOS!