Não é preciso ter bola de cristal para saber a principal pauta nos decadentes programas esportivos das maiores emissoras de televisão nesta segunda-feira (14). O tom irônico da coletiva de Abel Ferreira após a vitória contra o Santos, na qual ele disse que o Palmeiras é uma equipe ‘retranqueira, que joga atrás e não cria oportunidades de gol’, ganhará destaque e será alvo de críticas.
Você não vai ouvir que o Porco atropelou o Peixe com todos os requintes, alcançando mais de 20 finalizações, quase 70% de posse de bola e mais do que o dobro de passes certos diante de um grande rival que foi ao Allianz Parque decidido a se defender e a negar espaços. Foram pelo menos cinco grandes chances claras de gol, que poderiam ter transformado o 1 a 0 em goleada histórica, caso o Verdão tivesse o tal do camisa 9.
Feitas as críticas ao discurso de Abel e à pragmática vitória pela vantagem mínima, a Central do Apito fará uma mesa redonda para discutir o pênalti e a expulsão do zagueiro santista, que precisou chutar duas cabeças para ir embora mais cedo. Na sequência, talvez um quadro para debater sobre como a trave salvou o Alviverde pela segunda partida consecutiva.
Fala-se pouco, ou quase nada, de campo e bola na ‘grande mídia’ porque não é um produto atrativo no mundo do engajamento. Vivemos na era dos likes, dos RT’s, dos comentários e dos memes. E já entenderam como prosperar neste cenário. Convenhamos que não é tão complicado assim.
As três maiores torcidas do país odeiam o Palmeiras. Portanto, há um infinito público-alvo para discursos negativos dos mais variados. Normalmente, opta-se pela ‘retranca’, pelo ‘futebol feio’ ou pelo ‘caminho fácil’, que são conceitos tão rasos como seus autores. Taças levantadas deixam de ser suficientes e torna-se mandatório jogar como o Brasil de 1982 com a saída de bola do Fernando Diniz. Vocês sabem quem são, pois são sempre os mesmos.
Quando fica impossível criticar o desempenho em campo, como tem acontecido, partem para ataques pessoais. Abel já foi chamado de ‘colonizador’ e ‘supremacista’ mais de uma vez. Teve a mãe ofendida ao vivo. Outro dia um deles teve a pachorra de dizer que o recém-chegado compatriota do rival havia conseguido fazer o que Abel jamais conseguiu, com apenas dois jogos no cargo, por conta de uma goleada sobre a virtualmente rebaixada Ponte Preta. Se não estivesse publicado ou gravado, seria impossível acreditar.
Claro que não são todos, mas, infelizmente, os sérios e bons não têm o mesmo espaço, pois vendem e engajam menos. Este texto não se refere a eles.
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O jornalista de economia precisa estudar o assunto que cobre, mas é um absurdo insinuar que o comentarista esportivo deveria estudar futebol. Ficam ofendidos ao terem a própria incompetência exposta. ‘Somos o único país pentacampeão mundial, ora bolas’, diria um deles. São seres superiores com passe livre para criticar, mas que não aceitam críticas.
São os mesmos que dizem que um jogador anulou o outro sem nem estar em campo, ou que tal meia está sumido do jogo após ter sido substituído 15 minutos antes. São exemplos inacreditáveis de narrativas fabricadas que todo mundo viu e ouviu. Viraram atores em um grande teatro, querendo estar em evidência às custas da qualidade do conteúdo ou mesmo da realidade dos fatos. Comprar, assistir e espalhar é uma escolha.
Acontece sempre que alguém comete o crime de levar o Palmeiras ao topo. Foi assim com Cuca, Felipão e está sendo com Abel. Os modernos estrategistas Roger Machado e Eduardo Baptista eram elogiados e defendidos até o último dia no meio da tabela. Curioso.
Que Abel siga jogando na retranca, enquanto domina seus adversários sem levar gols e empilha taças. E que os mesmos de sempre sigam se rasgando em rede nacional até que caiam no esquecimento. Torcedores e jogadores parecem satisfeitos assim. De cabeça fria e coração quente, sempre.
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