Temos de ver muito os detalhes. Eles importam muito, falam por si e explicam muitas das coisas que não podemos parametrizar de forma concreta. Criou-se um clima bélico no Allianz Parque que há muito tempo não se via e ele não surgiu hoje. Felipão o trouxe. Incendiário de seus torcedores, o treinador vem a campo sob uma temperatura altíssima que desce pelas arquibancadas e reflete pelos atletas que poderiam estar estenuados após os primeiros momentos de um Palmeiras x Atlético de gigantesca intensidade.
Grande o suficiente para suprimir os valores técnicos. Não foi simples.
Do concreto, vinha um barulho firme e nada abalável. A pressão que os homens de frente exerciam sob os defensores paraenses era elogiável. Forma-se um conjunto que se sustentava. Ainda sob os problemas impostos pelo bom time adversário, o Palmeiras manteve-se tranquilo, intenso e focado, a marca que não é do A ou do B, mas desse elenco de novos rumos. Da beirada do campo, Paulo Turra fazia gestos claros de "calma, calma", orientando que seus atletas mantivessem o plano. Entre eles, foi nítido na boca de Moisés: "vamos, a gente sabe, vamos, a gente sabe". As vozes que quase calavam o camisa 10 endossavam o coro: vocês sabem, continuem.
O segundo tempo, tenso, viria com a notícia que o líder sofria um gol. Os perseguidores, empatavam. A vitória fazia entalar na garganto os gritos dos nossos gols que não queriam sair. No voleio de Borja, no chute de Willian, no cabeceio de Moisés.
Aí os detalhes retornam, como fundo musical.
Felipe Melo, no momento típico para desafinar a melodia, chapelou. Categoria, calma. Na bola esticada, o carrinho deu lugar a uma cobertura calma, aos aplausos de quem via. Era justo. Era o resultado de uma confiança cedida a quem havia errado feio. William, aquele que não fazia mais gols, chamava o jogo. Queria mais. Parecia ignorar o mau momento, sentia respaldo. Aqui, o texto pausa, como drama, para o maior dos detalhes.
Deyverson é chamado e ouvem-se aplausos no estádio. Quando antes, precisando de um resultado, aconteceria algo do tipo? A chacota cheia de confiança do treinador, a torcida, confiante no experiente comandante, um pacto. Ele entra não permitindo respiro aos adversários. Ganhando toda dividida, inflamando o já inspirado Allianz Parque. A pressão se fez enorme pra cima do ótimo Atlético. O gol viria, não há como interromper um refrão.
Passe de 10, finalização de 9, gol do quarto que tá louco pra ser terceiro, segundo, primeiro era preciso garantir a duríssima vitória que se consolidaria, diga-se, depois de incontáveis botes, bolas afastadas e defendidas que foram TODAS comemoradas de forma efusiva por que via e por que vivia. Você sente a hostilidade vitoriosa nessas frações de segundos e foi no segundo em que Bruno Henrique rachou uma bola dividida e ela foi dominada por Willian, que o penalti marcado no atacante se tornaria gol de Moisés, profetizando o final do fantasmagório retrospecto de penalidades mal batidas.
O apito final trouxe cantos, abraços carinhosos entre atletas que já haviam cantado parabéns ao aniversariante Thiago Santos, entre eles e seu comandante, sempre com um sorriso a mais, uma mão no ombro, um detalhe.
E no Campeonato Brasileiro, nesse que estava distante, o Palmeiras é qualquer coisa, menos um mero detalhe.