– Vó, você ainda vai me ver vestindo a camisa do Palmeiras.
Acho que falei isso algumas vezes para meu pai. Mas essa frase é de um adolescente que sonhou tão alto em São José dos Campos quanto pulou em Porto Alegre para desviar o chute do gremista Edilson que explodiu no travessão. A promessa de 11 em cada 10 aspirantes a jogador só foi cumprida aos 33 anos. Dois anos antes de ele estrear na série A. Dois anos antes de ele ser enfim goleiro do time que o fazia perder horas de sono. E ganhar como todo torcedor anos de sonho.
Jailson parece um dos seguranças do clube pelo tamanho e porte. Tem sido a segurança para superar a ausência de outro profissional que chegou tarde ao clube. Mas parece ter nascido na Academia. Fernando Prass que não era verde. Mas foi verde-amarelo com 37. Foi ouro mesmo não jogando no Rio-16.
Lá nos rios de Paraibuna o Jailson pesca na folga. Dizem que não come o peixe que fisga. Mas parece ser o jeito dele. Na muda ele cata. No silêncio ele pega. Joga a isca mas não se deixa morder. Nos treinos e jogos parece o mesmo. O torcedor que deu mais do que certo. O cara que vai dando a própria a bater a queima-luvas. Sem se abater.
O goleiro que um dia viu Evair no Allianz Parque e falou que sonhava defender pênalti dele. Mas de fato vibrou para ver o Matador fazer o dele em 12 de junho de 1993. Jailson que é o que eu jamais ousaria ser: goleiro. E do Palmeiras. Jailson que é o que todo torcedor deliraria ser. Jogador do time do coração.
Jailson que só foi tudo isso aos 35. Quando tem gente que já parou ou desistiu. Gente como a gente que um dia falou para a avó que seria astronauta quando crescesse. Ou goleiro do Palmeiras quando fosse adulto. Ou ainda melhor: seria Jailson quando fosse menor de idade.
Um sonhador com os pés no chão. E a mão no ângulo salvando o time do coração. O Palmeiras não foi bem. Mas voltamos de Porto Alegre com ótimo resultado pelas circunstâncias. Empate no Sul nunca será ruim. Claro que poderia ser melhor. Mas foi o possível com Gabriel apenas quebrando o galho como lateral no lugar do suspenso Jean,0 Tchê Tchê e Moisés longe da melhor forma, e Gabriel Jesus saindo lesionado aos 29 do segundo tempo. Pouco. E ainda menos aportado por Cuca com as apostas em Cleiton Xavier e Barrios.
Ainda mandamos uma bola no travessão. Mas não merecíamos melhor sorte. O Flamengo encostou de vez. Um ponto apenas de vantagem palmeirense na tabela. E com o tal do “cheirinho do hepta” invadindo mais as redações que os campos.