0h24, Jailson.
Quarta-feira da semana de aniversário do clube que é meu há 50 anos, seu há 36, nosso há 103. Estou com a minha pupila direita dilatando numa clínica oftalmológica em Botafogo. Acabei de ver insetos invisíveis com meu olho direito. Aquele que inundou junto com o esquerdo quando você e Prass se abraçaram no final do jogo com a Chapecoense, no BR-16.
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Além dos insetos que não existem, meu olho também percebe uns flashs esquisitos de luz. Fosse ainda o flashback do vestiário do Allianz Parque depois do 1 a 0 contra o vizinho da clínica, o Botafogo, no BR-16, seria maravilhoso. Quando nos vimos na zona mista e você me deu um abraço parecido com aquele que lembrei acima. E eu te dizendo na orelha: “calma, amigo! Ainda não ganhamos nada!”. Claro que você sabia! Também por isso ganharíamos tudo. Mas é preciso ter confiança. Fé. Pensar o melhor. Como você pensou e passou naquele abraço. Faltava pouco para o muito que conquistamos.
0h28. Na sala de espera enquanto minha pupila fica do tamanho da minha expectativa com receio de ser um descolamento de retina, a TV ligada na final do Masterchef, na Band. As finalistas fazendo uma sobremesa. Lições de moral e perseverança em receitas homeopáticas. Alguém da plateia grita para não deixar o abacaxi não fazer não sei o quê. Não entendo de culinária. E nem entendo como tanta gente se liga nisso.
Mas eu estava mais atento tentando ainda ler no celular o carinho das pessoas na grande rede com a sua lesão rara, Jailson. Talvez demore mais tempo de recuperação que capítulo final de Masterchef. E eu agora só lembro, aqui em Botafogo, do nosso abraço contra o Botafogo. Do nosso almoço na Cantina Palestra depois do jogo com a Chape, quando você veio direto da festa para a nossa entrevista pro Esporte Interativo.
Jailsão da massa na Cantina. Abraçado por todos como os nossos goleiros nos abraçaram na troca da guarda de nossos anjos da meta no jogo do título de 2016.
0h48. A doutora avaliou: não estou com a retina descolada. Mas sigo desolado pelas notícias do dia. A tua lesão e mais séria do que o imaginado. E foi quando você defendeu o pênalti contra o Barcelona. E seguiu lesionado para nos defender. Foi quase se arrastando para a meta. E nos levando junto mais uma vez. Não precisava tanto esforço. Mas você fez por todos nós.
Jailson, amigo, não sou bom para levantar ânimos de quem sofre o que não tem explicação. Mas sei que, hoje, todos querem refazer aquele abraço meu. Mais ainda, um dos abraços mais lindos do clube. Só mudando a direção de entrada. Esperando Prass sair de campo para você o substituir no final.
Mostrando que mais do que goleiros que podem sim ser substituídos como quaisquer profissionais, pessoas como vocês não se substituem. Ninguém troca vocês. Daqui a pouco você vai estar se trocando de novo no Allianz Parque.
E esse receio que você está vivendo, e essa hora que eu passei sem saber o que viria e o que eu veria pela frente, só servem para nos deixar mais fortes.
Jailsão, você já superou tanta coisa na vida e no futebol, que esse tendão de Jailson não será o de Aquiles.
Um abraço do tamanho daquele que você sabe dar.