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JG e Tutu: 'Uma carta à Conmebol'

Depois que inventaram as desculpas, as notas de repúdio e as fianças ninguém mais morreu

Placa da Conmebol com os dizeres: "Não ao racismo" (Divulgação/ABC Sports).
Placa da Conmebol com os dizeres: "Não ao racismo" (Divulgação/ABC Sports).

Vocês, senhores, buscam a excelência no torneio mais imponente que tem em mãos. Finais únicas, shows espetaculares, hashtags, luzes, garbo e elegância. Nessa festa, entretanto, tem entrado gente armada até os dentes com o armamento mais tórrido que há: o preconceito. E eles sentam no teu camarote.

Você já percebeu que eles não tem medo da sua patrulha, não é? Os pitos que você finge dar neles pouco efeito tem. Cinco minutos de delegacia, um dinheiro gastos e noutro jogo eles estarão de volta, passando por países diversos, fazendo fotos bonitas pra redes, e falando as piores palavras que alguém pode ouvir.

Os únicos a não ouvirem são vocês. Ficam escandalizados com o menor vestígio de manifestação política, mas são coniventes com discurso de ódio. Inverte-se a liberdade de expressão. Instrumentos de festa são mais perigosos em estádios que atos discriminatórios. Uma pena que o bafômetro não barre torcedores racistas.

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O rei do esporte que você comanda, ou tenta, tem na figura de um homem preto o maior que já existiu. E esses convidados seus fazem questão de chamá-lo de macaco, levar bananas pro estádio. Eles são filmados e sorriem, bem como aquelas plaquinhas patéticas sugerem, sabe? Então, no seu torneio.

Alguns parecem até, sendo racistas que são, fazerem por fazer. Apenas para testar a impunidade. E o teste é positivo para eles. Ferir adversários com injúrias e se safar é uma vitória para essa escória. Ao final, são premiados por aliados tão preconceituosos quanto, que endossam os gestos nas redes sociais. Já que não vencem em campo, encontraram esse triunfo fora dele.

O Brasil é o país que mais vence sua competição atualmente. Nas últimas três, vencemos todas. E anote aí: venceremos em 2022 também. E nossos times, que enchem seus bolsos, que ligam inúmeras televisões, que dão vida à competição, sofrem com preconceito em todos os jogos. Sistematicamente.

Quem sofre não aguenta mais. Não aceita mais esperar sentado por medidas que não virão. E, então, alguns vão reagir. O que pode ser dito para evitar? ‘Calma, no próximo não irá acontecer’. Sim, irá. E essa violência sem limites, alguma hora, será respondida com mais violência. O ciclo não terá fim até que vocês decidam parar quem começou.

Sabe aquele momento que você defende os seus e expurga os maus elementos? Tua hora é essa. Sabe o torcedor que foi racista? O time dele está fora do teu torneio. Sabe quando outro cidadão fará coisa parecida? Com outros milhões o culpando pelo ato? Nunca, amigos da Conmebol. Ele jamais fará algo parecido. Basta uma lição. Uma vez.

Competições de sucesso não se fazem apenas com luxo. Mas com humanidade, com justiça, com sentimento de respeito, de ética e caráter. Esses sujeitos se sentem em casa, que é sua, mas eles precisam ser extintos pra ontem. Ou se mata a praga ou se corta a coitada da planta.

A hora já passou. E a bola está contigo. Não adiantam campanhas de conscientização, não é o jovem assistindo de casa que vai imitar um macaco. A dor dele só vai surgir quando sua maior alegria for afetada. Seu direito a ver jogo, a eliminação de seu time. Só assim há de surgir o tal peso na consciência.

Depois que inventaram as desculpas, as notas de repúdio e as fianças, Conmebol, ninguém mais morreu.

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