Pra evitar estragar a experiência e a expectativa de muitos de vocês, não vou contar tantos detalhes sobre o livro ‘Cabeça fria, coração quente’, escrito pela comissão técnica do Palmeiras de Abel e lido em pouco mais de 20h por este que vos escreve. Gasto essas linhas para contar sobre a minha sensação ao passar pela página 554 e abrir um sorriso contemplativo sobre sonhos e vivências.
Eu me perguntei, durante vários minutos, já sentado com o publicador aberto e uma página em branco a me encarar, sobre legado. Já ouvi os amargurados e ocos sugerindo a suposta falta de um, bem como outros tantos, já menos florestais, que entenderam a evidente marca eterna que a comissão portuguesa já deixou no Palmeiras e no alcoólico futebol brasileiro.
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Eu entendi que não falamos mais sobre legado, um termo curto e com visíveis limitações. Legado é modo, é forma e conceito. Num legado, não se inserem emoções, e elas dão o verdadeiro tom do que está em franco progresso nas Alamedas. Entendi, enfim, que Abel Ferreira se misturou à Sociedade que ele chamou de Família. Ele, Tiago, Martinho, João e Castanheira são o Palmeiras que a minha geração sonhou ver.
A minha leitura foi selvagem, de certa forma. Pouco saboreei as delícias que fui encontrando, tamanha a fome que consumia o momento. Não foi possível ler, parar, pensar e depois seguir. É fluido e cativante ao ponto de em reiterados momentos a leitura ser bem acompanhada por lágrimas involuntárias motivadas pela realidade ali contada. É, senhoras e senhores, emocionante. Verdadeiramente emocionante.
Não há nada que vá te causar uma surpresa caótica, não. São constatações que Abel já mencionou em coletivas, outras que não pôde dizer, mas sabíamos existir. A mim, impressiona como o plano, o tão falado, é físico, tangível, longo, intenso e extenso. O plano não é uma figura de linguagem, nem um discurso motivacional, mas uma forma de viver o futebol sem deixar pessoas ou momentos pelo caminho. O plano é a materialização de Abel dentro de um clube de futebol – a partir de seu coração quente e sua cabeça fria.
Algo que posso contar a vocês é que existe um manual de instruções do maior Palmeiras que assisti em meus quase 28 anos de vida. Explicado à perfeição, traço a traço, linha por linha, do cozinheiro ao centroavante (ou falta dele), como tudo aconteceu. Nas finais da Libertadores, nas tardes de derrota, nas crises que se criavam como poeira, em tudo. Abrindo seu próprio receituário de sucesso, Abel não toma uma atitude arrogante ou pouco estratégica, mas desafiadora aos outros, que têm de superá-lo.
Tiago Costa é quem redige a obra, quem foi o escolhido para a função, e isso é interessantíssimo de se ler. Como as peças se encaixam numa engrenagem de 600 pessoas, que trabalham para alegrar 16 milhões. Se eu me alongar nessa explicação, deixarei passar spoilers que pretendo evitar, mas lembre-se de mim quando ler. Te garanto que ao fechar o livro, na última página, esse meu pequeno parágrafo vai surgir na sua memória – com algum sorriso de canto de boca.
Abel me fascina. Como toda essa comissão, que entregou à vida o que tinha de melhor e ganhou o Palmeiras como presente. A eles, vestir verde e branco é o grande passo, é a subida ao pódio, enrolado com a bandeira de Portugal e com o escudo da Sociedade Esportiva. Eles não vieram palmeirenses, mas eles são. Nem sempre defenderão profissionalmente nosso amor maior, mas o coração há de esquentar quando lembrarem. Abel Ferreira é o Palmeiras dos meus sonhos, maduro, vencedor, unido, trabalhador, honesto, sincero, verdadeiro, amável, irritadiço e apaixonado.
É como eu sempre quis. É melhor do que qualquer outro poderia fazer.
Ao livro mais emocionante que já li, um obrigado. De um palmeirense para 5 palmeirenses.
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