Promovido aos profissionais do Palmeiras em 2002, com 17, anos e cérebro do time em 2003, com apenas 18. Esse é Diego Souza, meio-campista que ao lado de Marcos, Vagner Love, Pedrinho, Magrão e Cia. foi um dos responsáveis por colocar fim em um dos piores momentos da história do Verdão: a Série B do Campeonato Brasileiro de 2003.
Então camisa 10 daquele time, Diego, em entrevista ao Nosso Palestra, revela que apesar de toda a pressão que caía sobre os seus e os ombros de todo o elenco, aquele foi o ano mais especial de sua carreira.
“Eu cheguei ao Palmeiras em 1998, com 14 anos. Fui acompanhar dois amigos que participariam de uma peneira no Clube e acabei sendo o único aprovado de nós. Então, tenho muitos bons momentos dentro do Palmeiras desde as categorias de base. Mas o mais marcante foi a conquista da Série B, quando tinha apenas 19 anos”, fala o jogador, que hoje defende o Taboão da Serra.
“É verdade que podíamos ficar marcado como o grupo que não conseguiu devolver o Palmeiras à Série A. Mas a verdade é que com aquela idade eu não tinha medo de nada. Aquele desafio levo até o hoje na minha carreira. O meu salário e o do Vagner Love era de R$2 mil. Mas a gente só pensava em recolocar o Clube no lugar do qual nunca devia ter saído. E tudo isso foi recompensado. Ganhamos o campeonato com uma rodada de antecedência. Pra mim, aquele foi um ano muito especial. Pouca gente lembra do que passamos em 2003”, acrescenta o meio-campista.
Neste período, Diego teve a oportunidade de conviver com um dos seus ídolos: Marcos, que, na época, havia acabado de ganhar a Copa do Mundo com Seleção Brasileira. Segundo o meio-campista, era o goleiro quem dava uma segurada nos excessos dos jogadores mais jovens do elenco, como o próprio Diego, os atacantes Vagner Love e Edmílson, e outros.
“Essa convivência foi mágica. Ainda mais com ele nos apoiando, falando que a gente conseguiria (o acesso). Ele podia muito bem ter falado que não jogaria com moleques ou ter saído fora. Ele foi pra Inglaterra, mas voltou. O Marcos foi fundamental para aquela conquista. Era ele quem dava uma segurada na gente, porque éramos afoitos. Tínhamos 19 anos e jogando num time grande. Tudo era fácil, todo mundo nos conhecia. Ele falava para não nos expormos muito. Ensinava a sair e entrar nos lugares, porque, antes de qualquer coisa, éramos atletas do Palmeiras”.
BRIGA COM ESTEVAM SOARES
Ao fim da primeira temporada, Diego participou do elenco que, no ano seguinte chegou às semifinais do Campeonato Paulista e terminou o Campeonato Brasileiro em quarto lugar, sob comando do técnico Estevam Soares contratado para o lugar de Jair Picerni.
A boa relação com Estevam durou até o início do Campeonato Paulista de 2005. Mais precisamente até o dia 13 de fevereiro daquele ano, quando o Palmeiras empatou com o União São João, em Araras. Na ocasião, Diego, no banco de reservas, foi colocado no jogo quando a equipe vencia por 2 a 1. Porém, ao entrar, o atleta viu o adversário empatar o jogo e o técnico o substituir cinco minutos após a sua entrada. Nervoso pelo pouco tempo em campo, Diego foi ao banco de reservas e proferiu alguns xingamentos ao treinador.
“Aquilo foi uma coisa de momento. Foi a única coisa que me arrependi em toda a minha carreira. Faltou uma melhor atitude do Estevam? Faltou. Faltou maturidade da minha parte? Faltou também. Anos depois nós nos encontramos, eu pedi desculpas e nos acertamos”, afirma o jogador.
Entretanto, até os pedidos de desculpas muita coisa aconteceu. No dia seguinte à confusão, Diego foi afastado do elenco a pedido do treinador. Porém, ele revela que ao ser comunicado do afastamento foi avisado pela diretoria de que o treinador seria demitido, e logo voltaria a treinar normalmente.
“O Palmeiras me deu todo apoio naquele episódio. Quando fui na sala do presidente (Carlos Afonso) Della Monica pedir desculpas, ele me falou: ‘Diego, fica um tempo em casa, porque ele vai cair. Quando o Estevam sair e eu contratar outro treinador, te ligo e você volta’. E foi o que realmente aconteceu. O Estevam caiu, o Candinho chegou e fui reintegrado. Aí voltei a jogar normalmente”, detalha o atleta.
Tempos depois da demissão, Estevam afirmou que todo aquele episódio ocorreu porque Diego, dias antes da partida, tinha passado a noite na balada e ao entrar em campo estava visivelmente atrapalhado. Diego, no entanto, nega que isso tenha acontecido.
“Não existe isso e tenho o meu pai e minha mãe para provar. Se eu tivesse na balada como ele falou, eu falaria: ‘Realmente, eu tava na balada’. Mas eu tenho a minha consciência tranquila que isso não aconteceu. Talvez ele tenha pensado que eu tivesse ido pro balada. Mas é uma atitude errada dele falar isso. E outra: se ele realmente pensou isso, porque me levou pro jogo? Pode ter certeza de que se tivesse na balada duas ou três noites antes eu falaria: ‘Eu estava na esbórnia’. Mas não estava. Se fui, fui dois meses antes. Naquele episódio, não!”.
PROPOSTAS DE SÃO PAULO, FLAMENGO E CRUZEIRO
Estevam também afirmou, tempos depois, que a decisão da diretoria em demiti-lo foi tomada por conta desse episódio. Que os dirigentes escolheram ficar com o atleta, e não com ele, uma vez que não havia clima para os dois trabalharem juntos. Questionado se concordava com isso, Diego foi taxativo: “Sim!”
“O Palmeiras não me liberou para time nenhum do Brasil depois daquele episódio. O Leão, técnico do São Paulo, foi campeão paulista em 2005, queria me levar pra lá. Eu tive propostas de Cruzeiro, Flamengo – e Coréia do Sul, sussurra o pai do jogador ao fundo. Mas o (Salvador Hugo) Palaia, que era o nosso diretor de futebol, avisou, na frente do Della Monica (presidente) e do Mustafá (conselheiro do Clube): ‘O Diego é o nosso camisa 10 e não sai daqui’. O Palmeiras só me liberou, meses depois, quando chegou uma proposta do Japão”.
Na Terra do Sol Nascente, Diego atuou por nove temporadas. Foram seis clubes e muito aprendizado dentro e fora de campo. “Lá aprendi coisas que jamais aprenderia aqui. A cultura funciona. Eles são muito rígidos com a educação. Se você não entrar na cultura deles você não joga. Hoje passo muito da educação que aprendi lá para os meus filhos. No Japão, aprendi a ser um profissional de verdade, a dar valor as horas de comer e dormir corretamente. Foi uma experiência espetacular”, garante o meio-campista
Hoje, muitos dos ensinamentos adquiridos no futebol japonês são repassados aos companheiros do Taboão Serra, que disputa a Série A3 do Campeonato Paulista. Apesar de não ter mais chances conseguir o acesso à Série A2, Diego afirma que em dois anos pode estar com o Clube na elite do Paulistão e, de quebra, encarar o Palmeiras no Allianz Parque.
“Almejo muito na minha carreira ainda. Tenho 34 anos, mas estou nas mesmas condições dos demais jogadores da Série A. O Taboão tem planos de chegar à elite, e em dois anos podemos conseguir. A minha cabeça está aqui. Recebi sondagens de alguns times, mas, por enquanto, não tem nada de concreto”.
Palmeirense desde criança, mesmo com o pai torcendo para o arquirrival, Diego faz questão de falar do carinho que tem pelo clube que o revelou e do quanto tem a agradecer ao Verdão. “Só tenho a agradecer ao Palmeiras. Tenho orgulho de ter sido Campeão Brasileiro da Série B pelo Palmeiras. Já fui algumas vezes ao Allianz Parque assistir aos jogos, porque sou palmeirense mesmo. O Palmeiras é um Clube maravilhoso, que me deu tudo que tenho hoje’, finaliza o meia.