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Um menino e uma vida de 103 anos

Um menino e uma vida de 103 anos

Na minha vida de menino, teve uma vez que saí do Morumbi triste depois de uma partida insólita em que o Palmeiras não venceu a Inter de Limeira. Chorei, mas não tive dúvida:

Eu sou Palmeirense. Sempre com P maiúsculo.

Sou porque foi na miséria ludopédica plena que esse amor se consolidou. Amor de Trapo e Farrapo, minha bandeira de guerra, meu pé de briga na terra, meu direito de ser gente, como cantou Paulo Vanzolini. O Palmeiras é isso na minha vida:

“Meu direito de ser gente”.

Pelo Palmeiras eu vivi tudo; eu ri, chorei, xinguei, amei, odiei… Vivi a plenitude da existência e entendi que isso faz parte não só do esporte, mas da vida. Por isso, mais do que qualquer outro vivente do mundo, eu sei o gosto bom de ser Palmeirense.

Sei pelo paradoxo disso tudo, do contrário que pode acontecer, ou seja; sei por que não preciso de nada… de mais nada além da paixão, para me sentir feliz pelo meu verde.

Sei, porque o Palmeiras é muito mais do que um clube de futebol para mim.

Sei por entender há muito tempo que o Palmeiras é um pouco de tudo que há no futebol e na vida. O Palmeiras é um drama, como na Cavaleria Rusticana, o Palmeiras é um sonho como num filme de Akira Kurosawa, o Palmeiras é uma tragédia como Carmen de Bizet, o Palmeiras é lindo como a Nona Sinfonia de Beethoven, como a peça Jesus Alegria Dos Homens de Bach, é triste como o fim do primeiro namoro. É pleno como a fúria de uma paixão.

Hoje, no dia do aniversário do Palmeiras, com tudo que vem acontecendo nesse ano, fiquei a pensar nisso tudo que vivemos, nessa nossa relação, na coisa de não ser mais menino, mas aí cheguei à conclusão de que não, nunca vai rolar de eu deixar de ver o Palmeiras com os olhos de menino. É impossível.

Nada na vida do homem de seus 45 anos, escritor, jornalista, fã do Lou Reed, do Truffaut e do João do Vale, estará dissociado do menino Palmeirense dos anos 70. Tudo que faço, tudo que sinto, tudo que eu sou, vem do menino. O jeito latino, a malandragem do bem, o gosto pela poesia, a incessante disposição na busca por encanto, o Palmeiras…

Tudo é o menino.

Tudo é festa. Afinal são 103 anos. No teu aniversário Palmeiras, mais do que parabéns eu te agradeço por tudo que vivemos juntos, por tudo que vamos seguir vivendo.

Muito obrigado por cada um dos seus 103 anos, Palmeiras.

Palmeiras…