Noelle e André sabem que é preciso amar como se todo dia fosse uma decisão por pênaltis. E com São Marcos na meta.
Noelle é Palmeiras desde que conhece de pequena o André que também é Palmeiras. O amor adolescente virou coisa séria. Casaram. Em 21 de agosto de 2015 nasceu o menino que tem um problema no coração. A veia que devia bombear sangue para o corpo joga tudo no pulmão. Os médicos deram um jeito logo cedo. Mas em um intervalo de três meses no primeiro semestre de 2016 tiverem de operar três vezes. Operaram a quarta vez no dia do jogo do Palmeiras deles todos contra o Sport, na Ilha do Retiro, numa segunda-feira à noite.
Lá mesmo, em 2009, na celebração dos 10 anos da canonização do anjo-guardião do Palestra Italia, também numa Libertadores, Marcos catou três pênaltis do Sport e classificou de novo o Palmeiras na competição. Mais alguns dos tantos milagres de São Marcos.
Por essas defesas e por outros feitos e fatos, o filho de Noelle e André – que passou quase a metade dos primeiros 10 meses de vida na UTI – tem nome de santo.
Irmãos de verde e de credo, outros descrentes ou fiéis de outras religiões e paixões, fizeram uma corrente pelo menino de coração com problema, dias antes do jogo, na mesma segunda-feira em que seria operado o menino. Dando força aos pais que fazem do amor por ele e pelo time que também os une uma linda história de amor e fé.
Muitos oraram pelo Marcos. O que tem nome de santo. Aquele que guarda e protege o Palmeiras desde 1999. Marcão ficou sabendo da história de Marquinhos. Muita gente pedindo para que ele segurasse mais essa, ajoelhasse e apontasse os dedos para cima. Para que ele fizesse o coração do Marcos bater como o dele vibra pelo Palmeiras de todos. O menino é Marcos por causa dele. Nós todos somos ele e os pais pela bênção do santo do Palestra Italia.
Marcão entrou na corrente pela fanpage dele. Assim escreveu no Facebook:
“Querido Marcos, respondo aqui não como Marcos goleiro, nem como palmeirense. Respondo como Marcos, pai de três filhos e que oro para que você saia dessa com muita saúde, apontando os dedos para o céu e oferecendo a vitória na sua vida pra Deus, o grande curador de todos os males!!!
Estamos aqui, todos da minha família torcendo por você e seus pais, que dê tudo certo!!!
Vida longa a você, Marquinhos!!”
Fim do jogo no Recife. Palmeiras venceu por 3 a 1. Gabriel Jesus deu um gol para Erik, marcou o segundo, e sofreu o pênalti do terceiro, convertido pelo mesmo Cleiton Xavier que nos levou longe na Libertadores de 2009, depois daquele chute ainda mais longínquo contra o Colo-Colo, em Santiago. O Palmeiras se manteve na liderança isolada. E, pela sequência de partidas, com o melhor futebol do clube neste século.
Então, como escrevi na “Revista do Palmeiras em 2016, “o que será até o final do campeonato não se sabe. Ele é longo, o Palmeiras tem altos e baixos nos últimos anos, a torcida é ressabiada desde 1914, tem muita gente com medo de acreditar neste século, e o futuro ninguém sabe desde Adão, Eva e desse menino Zé Roberto”.
Mas tinha tanta gente torcendo a favor que se esperava que viesse em dezembro o que veio mesmo. A nossa torcida e a de todas as outras torcidas era para que o pequeno Marquinhos já estivesse falando algumas palavras. Certamente “Palmeiras” vai ser uma das primeiras.
Assim como a torcida pelo coração do Marquinhos foi enorme, a do time do coração dos pais vai ser ainda maior por mais um dezembro de festa. Pelo menino que nasceu cinco dias antes do aniversário do clube. Pelo coração que vai bater mais forte por ser mais Palmeiras.
Coração que aguentou forte a operação no dia do jogo. Foi a melhor de todas elas. Torcida pode não ganhar jogo. Mas é campeão quem tem tanta gente torcendo. Sabe muito bem o Marcão. Aprendeu desde cedo o Marquinhos.