Não cabe a nós, brancos, falarmos do racismo. Não podemos, professor, diminuir uma dor que não sentimos, entendemos ou tampouco presenciamos. É desonesto que tomemos a palavra para algo que não nos diz respeito. Eu demorei a entender o racismo e, ainda, confesso, me enrolo para entender quando o assunto pode receber meu ponto de vista, mas há algo inquestionável: não se pode minimizar. Nunca.
Acredito na boa intenção do senhor em responder sobre racismo no futebol, mas não se pode dizer que é normal. Talvez esse preconceito ainda sobreviva tão fortemente no mundo até hoje por termos muitos de nós que nunca sentimos na pele e insistimos em opinar. Esse espaço tem dono, tem dor e tem repertórios próprios. É preciso respeitar e ouvir. Aprender.
O futebol é formador de opinião, de caráter, de costumes. De quase tudo, professor. E quando alguém do seu gabarito fala, todos ouvem. Muitos, seguem, reproduzem. Esse é o perigo, nesse caso. Era fundamental que esse posicionamento tivesse a voz de quem precisa mesmo ser ouvido. As ofensas, as oportunidades perdidas, as vidas desperdiçadas, o sofrimento todo não nos é conhecido. Eu e você, professor, que somos brancos.
Seus jogadores, o Luiz, o Jaílson, o Verón, o Patrick, eles sabem o que passam quando, numa Libertadores, ouvem um **macaco**
surgir das aquibancadas. A gente bem que pode achar que faz parte do futebol, mas, pra eles, faz parte da vida, da história e das estatísticas superadas. Não é só uma brincadeira, é algo que matou João Pedro e incontáveis outros cujo crime foi ter uma cor que não fosse a branca.
Lugar de fala é fundamental, professor. O senhor, e todos nós, precisamos entender. Os movimentos e hashtags não resolvem. Só as ações. E nosso papel é emprestar nossos espaços para propagar o certo. Sempre.