O campeão do Século XX se fez comprando no mercado o que raramente fez em casa. Das seis estátuas nas alamedas do Palestra, Junqueira, Oberdan e Fiúme vieram meninos da várzea para o clube. Ademir da Guia chegou moço do Bangu, como Marcos da Lençoense. Dudu já tinha 5 anos de Ferroviária.
Lembre outros ídolos. Vieram mais rodados. Ou jovens de outros clubes. Difícil garimparmos pratas da casa. Aqui tratados como chumbo para levar ferro das arquibancadas que tradicionalmente cimentam vivos futuros talentos.
No Palmeiras, a princípio, qualquer Ademir da Guia é Darinta.
Desde 2015, o jogo virou. Por planejamento de gente competente como Cícero Souza e João Paulo Sampaio, além de investimento real em reais e estrutura e estratégia, o Palmeiras ganha e/ou chega em tudo para conquistar em todos os subs.
Mas ainda falta fazer subir quem pode.
Mas não são todos que podem muito. E mesmo planejando cada vez mais ter gente da base no elenco, a palavra final é do treinador principal. Nem sempre com vontade ou gosto ou dom para dar de mamar e botar no colo.
Ainda usamos pouco tudo que revelamos. Pelo planejamento desde 2015. Pela necessidade desde 1914. Ou porque se relevam alguns nomes que funcionam mais fora ou para ganhar dinheiro (Vitinho), ou porque não têm espaço mesmo (Artur), ou porque não tem como segurar. Como pode ser o caso do mais talentoso desde Gabriel Jesus (Luan Cândido) e ainda Vitão (um candidato a Luís Pereira deste século – outro que veio cedo, aos 18, mas já era titular do São Bento, em 1968).
Não é tudo que da base dá jogador. Mesmo vencedor. Mesmo talentoso.
Embora diferente em tudo, sou mais Artur como eventual opção pela ponta que o caríssimo Carlos Eduardo. Seria ainda mais Fernando que foi pra Ucrânia do que Felipe Pires que não e tão caro. Mas esse é outro tipo de negócio. Fernando veio comprado para a base. Não é fruto de nossa Academia reformulada.
O melhor time que vi na vida foi o Barça de Guardiola. O que tinha Valdés, Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi e Pedro formados em La Masia. Em casa. O melhor time que vi no Brasil foi o Flamengo de 1981-82. O que tinha Leandro, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Tita, Zico e Nunes formados na Gávea. Na terra.
Além do talento, ajuda demais o entrosamento e afinidade do lar.
Mas isso não se compra. É pra plantar. É pra implantar. Ainda demora.
De todos os que subiram desde então, pra jogar mesmo eu apostaria pra ontem em Luan Cândido. Os demais poderiam até compor elenco também pra evitar comprar mais elenco.
Mas nada muito além disso. Quando ganhamos tudo que vencemos desde 1920, não ficamos mais felizes ou menos porque nossos times tinham não sei quantos da base. São todos Palmeiras. Não importam de onde venham pra campo ou fora dele.
É tudo do Palestra. Ou deveria ser. Não importa a origem. O que vale é a finalidade.