Era o melhor momento do Corinthians em 2020 – ou mesmo desde o tri paulista em 2019 – em uma casa onde até então tinha mais vitórias do que o dono dela (mas menos gols marcados). Vinha de um 5 a 0 jogando muito bem contra o Fluminense.
A zaga de qualidade e de convocáveis para a Seleção não vinha sendo vazada (apenas um gol tomado nas sete partidas anteriores, quatro delas clássicos). Gabriel retomara o desempenho de 2017. Cantillo voltava a ser confiável opção como segundo volante. Cazares acordado, Mosquito e Vital muito bem pelos lados, Jô respeitabilíssimo no comando de um ataque que enfim crava e convertia chances. Dérbi para definir quem tinha mais vitórias desde 1917 em jogos de 90 minutos entre os maiores rivais paulistas.
O Palmeiras vinha de vitória histórica em Avellaneda contra o River Plate, de derrota histérica (ainda que classificatória) contra os millonarios, de um primeiro tempo brilhante e outro preocupante contra o Grêmio, e foi para o Dérbi como deve ser – e entre 2017 e 2019 não vinha sendo. Como muitas vezes foi desde o primeiro 3 a 0 em 1917, no primeiro clássico, com gols palestrinos de Caetano Izzo. Foi como o pesquisador Miro Moraes contou: o primeiro 4 a 0 no Parque Antarctica desde 1930. A maior goleada da era das arenas (a partir de 2014).
Placar e desempenho que nem o mais fanático palmeirense (como todos) poderia delirar. Nem o mais fanático fiel (como todos) poderia pesadelar.
Abel já tinha inesperadamente Felipe Melo recuperado no banco para capacitar até animicamente os companheiros. Mas seguia sem Marcos Rocha, Gómez, Patrick de Paula e Wesley. Poupou Rony de início, e acertou a mão com Kuscevic como parceiro do ótimo Luan na zaga. O excelente Danilo ajudando Zé Rafael e Veiga a construírem por dentro, com Gabriel Menino e Willian voltando a voar pelos lados, e Luiz Adriano seminal por dentro no 4-1-4-1 que variou para 4-2-3-1 com natural fluência.
O Palmeiras não só ganhou lindo como teve lances muito bonitos o Dérbi todo. Até quando o Corinthians cresceu e dominava até levar o gol de Veiga, aos 33. Quando Willian (em noite de Willian) armou para Veiga às costas de Cantillo fazer 1 a 0. Só não fez o segundo por Fagner salvar gol certo na mais bela jogada de Willian com Menino, aos 41. Mais 4 minutos e Luiz Adriano completou passe de Willian depois de bela enfiada de Zé Rafael: anulada pelo bandeirinha e confirmada como gol pelo VAR.
No segundo tempo, no “plano inclinado” do Gol Sul, com 18 segundos Cássio quase fez bobagem explodindo a bola no rosto de Jemerson. A um minuto, o goleiraço corintiano se redimiu salvando gol certo. A 2min55s, Veiga fez um gol de bola rolando “parada” depois da matada de Luiz Adriano em mais um belo passe vertical de Luan. Aos 20, Gabriel foi o autor pouco intelectual do gol carambolado de Luiz Adriano, no erro do ex-volante palmeirense no recuo despropositado. Ex que usaria ainda menos a cabeça ao deixar o braço em Danilo e ser devidamente expulso, aos 31. O que por um lado até “ajudou” o Timão a administrar o estrago. O Palmeiras tirou o pé, o Corinthians não baixou mais o braço, e foi 4 a 0 até o final.
Jogo para guardar na história palmeirense. Partida para alertar o momento corintiano. E mais uma daqueles clássicos para provar que a gente não sabe mesmo nada de bola.
Falo por mim. E por muitos que talvez não admitam.
Enorme o que fez o Palmeiras no Dérbi. Gigante o tem feito o Palmeiras desde Cebola. Palmeiras o que tem feito o Palmeiras.