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O Divino parou: a despedida de Ademir da Guia, 18/9/1977

O Divino parou: a despedida de Ademir da Guia, 18/9/1977

 

 

 A despedida de Ademir da Guia, em 18/9/1977

A manchete da Folha de S.Paulo disse tudo sem saber: um suspiro de alívio corintiano. Por tudo que viria. Por tudo que da Guia. Caído na foto em um dos últimos ataques da carreira irrepreensível.

O Corinthians vencera os dois Dérbis anteriores pelo Paulista de 1977. Oswaldo Brandao, mestre de Ademir na Segunda Academia, colou o volante alvinegro Ruço no nosso 10. Ainda assim ele achou um espaço para aparecer livre na cara de Tobias, no começo do clássico. Mas o nosso Divino escorregou e furou a bola. Não era um domingo qualquer.

No segundo tempo, eles já venciam por 1 a 0, gol de pênalti discutível marcado por Zé Maria, quando Ademir teve outra chance. Mas deixou a bola escapar pela linha de fundo. Não era o Divino.

No lance seguinte, falta batida por Romeu, Vaguinho cabeceou e fez 2 a 0. “O desespero palmeirense foi tamanho que logo depois Jorge Vieira substituiu Ademir da Guia pelo atacante Picolé”, escreveu o jornal.

Faltavam ideias. Gols. Mas o desespero era ainda maior. E não sabíamos. Faltava o ar ao Divino. E nem Ele sabia.

O Palmeiras perdia o Dérbi no Morumbi para o maior rival por 2 a 0. Em menos de um mês, o Corinthians sairia da fila de 22 anos sem títulos. Não por acaso, só conseguiria um título quando Ademir da Guia aposentou as chuteiras.

Enquanto da o Divino brilhou em 901 jogos do Palmeiras, de 1961 a 1977, o clube onde o pai dele havia jogado não ganhou nada.

Bastou Ademir pendurar as chuteiras e assumir a eterna divindade para eles voltarem a vencer. Não por acaso foi a nossa vez de padecer 16 anos. Até eles decidirem contra a gente. Paulista de 1993. Até Zinho. Evair. O Alviverde inteiro em 12 de junho. Não por acaso, na primeira vez que Ademir voltou ao Morumbi onde se despedirá justamente contra eles, em 18 de setembro de 1977. E do jeito mais Ademir da Guia de ser. Divino. E calado.

Aqui ele fala: “no torneio amistoso contra o Atlético de Madrid no Morumbi, em (4 de) agosto (de 1977), eu senti falta de ar com a chuva e o frio. Depois passou. Mas os episódios de problemas respiratórios foram ficando frequentes. Até que tive de sair de campo naquele clássico. Eu queria voltar. Achava que jogaria mais uns dois anos. Primeiro como volante. E depois como zagueiro, como o meu pai. Mas eu não tinha ar. Uma coisa esquisita. Eu respirava e não vinha nada. Aí eu tive que parar”.

Não teve despedida até 1984. Não teve anúncio oficial. Nem mesmo um adeus ao Divino. Ele parou como começou. Na muda. No meio. Na maior calma. Com a maior técnica. Habilidade. Na dele. Por nós. Ademir da Guia da Primeira e da Segunda Academia.

O maior jogador do maior campeão do Brasil. Filho do maior zagueiro de todos os nossos campos e tempos – Domingos. Pressão desde o início sobre o garoto que quase foi parar no Barcelona. Treinou e quase ficou no Santos. Era para ter treinado e ficado antes no Corinthians.

Mas ele veio mesmo estar no meio de nós. Divino que nos deixou há 40 anos no maior silêncio sideral pela falta de fôlego. Depois na nossa maior depressão histórica pela falta da graça divina.

Como superar a sua saída sem saúde?

Como gritar o silêncio de seu adeus?

Ademir continua entre nós. Do jeito manso que chegou em 1961. Do jeito mudo que parou em 1977.

Amém, Ademir. Do Palmeiras que nos da Guia e rumo.