Felipe Francisco: “Perdi meu pai no dia 4 de novembro de 2017. Uma doença só descoberta no dia de sua morte, um sábado. Um dia antes do último Palmeiras x Corinthians, em Itaquera. Partida que poderia resultar em uma reviravolta no BR-17, infelizmente a reviravolta foi em minha vida”.
Felipe não morava na mesma cidade que o pai.
“Nossa última conversa foi por telefone. Eu queria dar a ele uma camisa do Prass. Mas não deu tempo de comprar”.
A separação física só não era maior porque havia o sangue verde a uni-los.
“Em todos nossos telefonemas, não faltava um ‘e o Palmeiras, hein?’. As últimas palavras que tive com meu pai foram: "te ligo no domingo para comemorarmos a vitória contra eles".
Não deu para ligar. A essa inesquecível (da pior maneira) partida eu tive que assistir em prantos. Foram os três gols deles mais dolorosos de todos”.
O Derby era o jogo da vida de pai e filho.
“Nasci em 1993, pouco mais de um mês depois do título paulista contra nosso maior rival. Para o meu pai, era como se eu já estivesse lá, assistindo ao seu lado… O primeiro jogo que lembro foi nas quartas de final da Libertadores de 1999. Novo-velho Derby. Meu pai ouvindo no rádio, atento a cada jogada para poder gravar o momento do gol em uma fita cassete. Lembro a alegria cada vez que ouvia o nome Marcos, principalmente nos pênaltis. Eu soube apenas pular no sofá para acompanha-lo na festa. Nasceu ali o que já estava vivo desde 1993: meu fanatismo por nosso Palestra”.
Em 2018, o Derby não vinha sendo o de sempre. Ainda mais sem o companheiro eterno.
“Até o último no Allianz Parque, pelo returno do BR-18. Assim que o segundo tempo começou, senti a presença do meu pai. Foi algo tão real que minha gata começou a miar de uma maneira maluca para o lado vazio da cama. Estava sozinho em casa, mas não me desesperei, só tive certeza que venceríamos”.
Não deu 2 minutos. Gol do Deyverson.
“Passou um filme de tudo que vivemos Em todos os Derbys, de alguma maneira, tivemos contato. Nesse, não era mais possível ligar pra ele”.
Mas Francisco e o pai estavam conectados pelo que há de maior e mais próximo.
“Não terei mais o meu pai ao lado. Mas sei que ele está acima. Nunca mais esquecerei esse Palmeiras 1 x 0 Corinthians. O primeiro que sei que meu pai veio comemorar comigo”.
Felipe, seu pai também está nesse bolo de gente que a gente não consegue nem distinguir. Mas sabe que é dos nossos.