Não era para Zinho bater aquela falta de longe. Até mesmo de perto. Zinho é um monstro. Um de nossos maiores e melhores. Até com o pé direito que abriu os 4 a 0 de 1993. Mas não era para bater em gol aquela bola contra a meta cruzeirense naquele frio desgraçado de 30 de maio de 1998. Sábado à tarde no Morumbi. Final da Copa do Brasil. Dia da revanche da maldita final da Copa do Brasil de 1996. Quando aquele fabuloso Palmeiras de Luxemburgo perdeu para o Cruzeiro do mesmo Levir Culpi. Quando Dida fez os milagres que também o levariam para a Copa de 1998.
Por isso ele não estava naquela escorregadia tarde no Morumbi. Já estava na França com a Seleção. O bom Paulo César era o goleiro celeste. O bom goleiro que não segurou a falta de Zinho. A pelot escapou rumo à linha de fundo, pela direita do ataque. O ótimo Marcelo corintiano de 1993 era o mesmo camisa 3 cruzeirense em 1998 que correu atrás dela para evitar a conclusão do lance.
Oséas também correu até ela. O normal era bater para trás para a chegada dos companheiros que vinham no rebote.
Mas o fominha do centroavante não quis nem saber. De onde estava resolveu enfiar o pé.
No banco, inteiro em pé depois do rebote do goleiro, o grito foi quase uníssono:
- FILHO DA PUTA!
Todos recriminando o chute do artilheiro. No banco, no campo, na arquibancada, na televisão, no rádio.
Em campo, Velloso já não tinha gostado de Zinho ter chutado aquela bola de longe. E não acreditou quando Oséas chutou sem lógica e sem ângulo aquela bola.
- FILHO DA PUTA!
Felipão gritou pela segunda vez. Desta vez menos incrédulo. Mas com a mesma firmeza usual. E já meio que entendendo o que era incompreensível futebolisticamente. Fisicamente. Geometricamente.
- FILHO DA PUTA!
O primeiro era o xingamento do torcedor, do jogador, do treinador, do Alviverde inteiro. Era pra passar pra trás. Não pra chutar dali.
O segundo FDP era a dúvida que todo o Morumbi teve: onde foi parar essa bola?
O terceiro era o que a gente via mas ainda não entendia.
"Quando eu vi lá de trás a bola estufando a parte de cima da rede, eu não entendi mais nada. Aliás, ainda não entendo", disse Velloso.
Eu estava no centro do campo. Mais ouvi a torcida à minha esquerda gritar gol do que entender o que tinha acontecido.
Foi como uma ola. Onda sonora e visual que saiu do gol de entrada do Morumbi e foi tomando todo o estádio. E o Brasil da Copa.
Gol do Palmeiras. O segundo. O do título.
O chute mais longo da história. O gol mais incompreensível. O lance que lembramos como é o jogo: sem precisar entender.
Foi contagioso. Foi invisível.
Foi o gol de Oséas que nem ele consegue explicar. Como o gol que no mesmo estádio três meses antes ele tinha feito na outra meta. E contra a nossa própria meta em um Derby.
Não sabemos explicar.
E quem precisa?
Obrigado, Oséas.
Isso é futebol: acreditar no impossível.
Isso é Palmeiras: impossível não acreditar.