Eu fui pegar com meu caçula Gabriel o Borja em Cumbica. Pensei algumas vezes em 2017 em levá-lo de volta ao aeroporto. Não o meu filho que viu comigo pela primeira vez juntos, no Lounge Centenário, o primeiro tempo com gol dele, contra o Fluminense. Pensei mesmo algumas vezes como devolver o Borja. Como o Jaiminho que vai ser pai do Dudu (que tá na barriga da Marina) mandou num jogo de 2017 o meu Gabriel tirar a foto dele com o Borja do perfil do WhatsApp.
“Dava azar”.
Algo que esse Palmeiras não tem.
Felipão saca o melhor em campo (Lucas Lima que eu não sabia se queria no time este ano, se venderia agora, ou se será titular em 2019), tranca demais a área com Felipe Melo – que na primeira bola dá uma sapatada sensacional para marcar um golaço. O segundo. E do FM não preciso dizer quanto não batemos a sintonia. E quanto ele desafina quando mais bate do que joga a bela bola que tem.
Veio o terceiro na sequência com Luan. Um que eu queria no clube em 2017, depois nem banco, e agora titular. O Palmeiras não jogou pra fazer 3 x 0 no frágil Fluminense. Mas não deixou o rival criar chances. O líder com 8 pontos antes dos jogos de Inter e Flamengo criou nove, converteu um terço, e só os outros 19 times rezando inteiros rosários pro Palmeiras não ser deca.
O Verdão que achei que não iria mais a lugar algum quando Roger saiu sem encontrar o time e o jogo há um turno que o Palmeiras não perdeu. Grande líder que só me deu esperança de título quando venceu o Furacão no Allianz Parque. A linda arena da grama mais feia do que ruim. Como esse time poderia jogar mais bonito. Mas não tem melhor no BR-18. As coisas mudam. Os jogos viram. A gente precisa lembrar. Falei isso antes dos 3 a 0 no Esquenta da Cantina Palestra com o Ademir da Guia. Lembrei o golaço que o Divino fez no Rio na estreia do Robertão-67 contra o Fluminense. Ele não lembrava. Recordei o César Normal (que Maluco é o Deyverson) como ele virou titular e artilheiro daquele título. E lembrei para quem estava na festa que eles estavam na presença do maior goleador desde que o Palestra virou Palmeiras e também do maior jogador do clube (e segundo goleador).
Privilégio. Mas Ademir um dia foi “lento” pras cornetas e bestas do apocalipse. César foi mais Maluco que o reconhecimento que se deve a César o que é dele. O jogo vira. Como o Júnior que depois pintou na cantina. O penta em 2002, o lateral campeoníssimo respeitado nos dois lados do muro dos CTs. Como o Wendel que foi atleta e puxou no Esquenta da cantina os gritos da arquibancada de onde veio e pra onde volta sempre. Um dos nossos. Outro que veio da base e virou o jogo. Deu aquele gol que era dele pro Valdivia no SP-08 depois de correr todo o campo. Como faz o Moisés que estava no camarote Fanzone com a família que é Palmeiras como tantas. O craque do enea. Hoje lesionado. Mas torcendo como se estivesse jogando.
Como eu voltei a torcer no primeiro tempo com meu caçula e amigos em vez de trabalhar na cabine da Jovem Pan. Como no segundo tempo eu me maquiava no Esporte Interativo antes do MAIS90 no Canal Space para entrar no ar logo depois do apito final. De um clássico fácil para quem faz as coisas difíceis parecerem fáceis como os grandes times. Mesmo vestindo camisas que fazem as fáceis parecerem impossíveis.
Mas aí veio o Felipão paizão tranquilizando a galera na sala de entrevistas Joelmir Beting, no Allianz Parque. Aí me veio na cabeça o abraço do amigo de Cambuí que me disse que estava realizado só por ter conhecido antes do jogo quem ele tinha como ídolo. O mesmo cara que aqui escreve para agradecer as palavras que o adolescente que chorou ao me ver e não me disse nenhuma palavra pela emoção. Certamente seriam melhores que as do torcedor que dois minutos depois me chamou de usurpador do Palmeiras e vendido pra imprensa, além de duvidar da dona Lucila, e dizer que palmeirense bom mesmo é meu pai – e isso não se discute.
A gente vira o jogo. E esse jogo vira com a gente. Mas uma vez que a gente vira Palmeiras, é pela vida toda.