Ele se ajoelhou do baixo dos seus poucos anos de idade e muitas temporadas de decepções palmeirenses. Semifinal da Copa do Brasil-15. Três anos exatos. O menino não queria olhar a cobrança perfeita de Rafael Marques no ângulo de Diego Cavalieri – outro alviverde de arquibancada de menino.
Ele ainda não tinha nascido para ter visto na meta do placar do outro lado do velho Palestra a bola de Zapata explodir na placa em 1999. Nem mesmo a derrota na semifinal da Libertadores de 2001 para o Boca. Ele ainda não tinha visto pênaltis no Allianz Parque. Ele e todos. Muitos não iriam ver os 4 a 1 penais que classificaram o Palmeiras à duríssima final contra o embalado e empolgado Santos. Quando Prass repetiria a história como festa.
O pequeno grande palmeirense viu o primeiro gol. À frente dele estava um alviverde mais curtido. Celso Foggi, amigo de Facebook. Antes da primeira cobrança, ele viu o menino ajoelhado. Falou ao garoto que estava de cabeça baixa, meio que orando, meio que não sabendo o que fazer – como o time dele muitas vezes não soube fazer desde que ele nasceu:
- Olhe, menino! Olhe para o nosso jogador e acredite que ele fará o gol!
Sua ordem era o desejo geral. O garoto olhou para Celso e balançou a cabeça levemente. Fez sim. E deu certo. O menino olhou para Rafael Marques e orou pelo gol. 1 a 0.
Celso virou para trás e o garoto era outro. Ou já estava menos desconfiado. O sorriso confirmava a esperança. Verde.
Jean (que depois seria nosso) empatou com categoria para o Flu. Um zagueiro foi bater para o Verdão… Mas não bateu como tal. Jackson, bem, 2 a 1.
O ótimo Gustavo Scarpa era o segundo batedor tricolor. Até então, todos os destros bateram e fizeram e nenhum dos ótimos goleiros (também na arte de defender pênaltis) apareceram nem nas fotos de craques como César Greco.
Um canhoto já errara um pênalti – Zé Roberto, no lance do segundo gol de Barrios. Como canhoto, mandou no canto preferencial (o esquerdo, cruzado). Diego defendeu no tempo normal. No mais anormal dos tempos (o dos pênaltis), normal só mesmo um goleiro palmeirense defender como Prass.
Estava escrito por todos os anjos e o santo Marcos. Prass finais. Estava falado pelo meu amigo de FB:
- Garoto, agora você tem que olhar para o Fernando Prass e acreditar que ele vai defender o pênalti, certo?
- Certo!
Certo no canto foi Prass. Certíssimo é o santíssimo defensor da Academia de Goleiros do Palestra, do Palmeiras, do Allianz Parque. Tudo azul na meta verde.
Quando Prass defendeu como se estivesse em Itaquera, Celso virou para trás e viu o menino mais alto que ele, de tanto que pulava, sorria, gritava.
Quando o menino viu o velho conselheiro de arquibancadas, esticou os bracinhos para ele o abraçou como se o conhecesse desde o berço recente.
- Aí eu chorei. Já li que explicar a emoção de ser palmeirense é impossível, mas ali se fez possível nos olhos e no rosto daquele pequeno grande palmeirense.
Cristaldo, outro que veio do banco como um Fedato do século XXI, bateu e fez 3 a 1. Era a vez do zagueiro tricolor. Bateu como tal. Mas achando que fosse Rivellino da Máquina Tricolor. Deu paradinha e isolou a bola com uma cavadinha que cavou a fossa do Flu. Gum? Booom!
Era só o outro que veio do banco marcar. Tudo estava em Allione. All in one (sorry, leitores). Four-one. 4 x 1. Palmeiras classificado.
O adulto Celso celebrou como criança. A criança atrás de Celso aprendera a torcer como adulto nos pênaltis. Mas… Pensando bem de tanto penar mal com tantos penais nos ombros, melhor abusar de Verissimo: “não existe maneira adulta de torcer”.
Não tem mesmo. É buá na boa, é mimimi na miséria.
Depois, Celso Foggi me procurou pelo inbox:
- Mauro, passei o dia pensando nisso que te descrevi aqui pelo FB. Não sei porque isso aconteceu, mas foi assim. Pensei o motivo de eu não ter tirado uma foto com este menino que ali, naquele momento, foi meu amuleto. Aí, agora, meu irmão me mostra do celular dele a foto do garoto ajoelhado. "Não é esse o garoto que você falou pra mim hoje?" E mais uma vez esse pequenino me encheu os olhos de alegria. Essa foto foi publicada na página do personagem fictício do Marcelo Oliveira, também escrevi a ele, mas quis dividir isto com você por ter vivenciado pessoalmente as emoções transmitidas em todos os textos que você publica.
Obrigado, Celso, pelas palavras, história e confiança.
Parabéns, jovem palmeirense, pela esperança, oração, credo e fé.
Não sei quem você é. Não sei o seu nome. Mas sei o que é mais importante: você é dos nossos.
E sei que essa história de exatos três anos pode se repetir mais uma vez como Palmeiras.