ESCREVE UN PALMEIRENSE ANÔNIMO
A única coisa sobre a qual todo mundo concorda no mundo de hoje é que a outra metade do mundo perdeu a cabeça e está do lado errado da história. Tenho observado pouco ou nenhum esforço das pessoas para entender ideias diferentes, reformular convicções ou, no mínimo, respeitar aquilo que não está de acordo com a sua forma de enxergar as coisas.
E por causa dessa intolerância, decidi escrever de forma anônima. Como pouca gente está disposta a aceitar essas diferencas, entendo não valer a pena a exposição de uma pessoa que eu amo.
Já tem alguns anos que eu percebi que meu pai e eu vemos o mundo de maneiras bem diferentes. Às vezes a temperatura subia, mas o amor e o respeito sempre estiveram acima de tudo. Dava pra conversar Com o tempo, no entanto, aconteceu conosco o que se viu em muitas outras famílias brasileiras nos últimos anos. O conflito foi gigante entre o amor que sinto pelo meu pai e a repulsa por algumas coisas que ele defendia.
E se simplesmente não fôssemos compatíveis? E se eu estivesse agindo exatamente da forma que eu estava criticando? Sera que eu só vou me relacionar com quem pensa do mesmo jeito que eu? Que bem isso vai trazer pro mundo?
Fiquei atordoado por semanas. As conversas secaram. Havia um claro ressentimento. E o receio de que as coisas pudessem piorar se o assunto viesse à tona.
Optei por não desistir.
Uma noite, por obra do acaso, toda a família se viu ocupada e impedida de ir à pizzaria. Sobramos eu e meu pai. Com cuidado, fomos tentando encontrar o tom. O papo fluiu aos poucos e, ao final da noite, havíamos reconectado. Dos encontros presenciais essa leveza passou para os telefonemas e videochamadas.
Já não estávamos mais falando daquilo que nos tinha afastado. O assunto à mesa ou ao telefone era o comando do Felipão, se ia dar pra acompanhar o Flamengo, ou se ainda valia apostar no Deyverson. Não que concordássemos sempre, mas as discussões nesse caso eram divertidas.
Ainda não resolvemos as diferencas. E talvez nem seja o caso. Espero mesmo que um dia possamos falar da vida, do mundo e de política como falamos do Palmeiras. Quando o assunto é o Palestra, não ha nenhuma dúvida de que queremos a mesma coisa.
O Palmeiras nao me deve nada. Nem o Papai Noel. Nem meu pai. Meu amor é incondicional. Mesmo assim agradeço pelo presente de Natal.
ESCREVEU UM PALMEIRENSE ANÔNIMO