Faltavam 10 dias para a final da Libertadores. A equipe do Palmeiras já sabia como jogaria contra o Flamengo e, acima de tudo, como faria para conquistar o tricampeonato da América. Abel Ferreira, depois que o Verdão perdeu o Choque-Rei, em casa, chamou seu elenco para uma reunião.
– O plano de jogo que eu pensei é esse. Agora, preciso saber se vocês concordam.
Esse foi o grande momento que precedeu a decisão da Libertadores, ainda que a jornada toda tenha episódios fundamentais. O planejamento teve início quando Abel conduziu seus jogadores a mais uma final, desta vez, diante do Flamengo, uma das grandes sensações do futebol brasileiro. Sem Marcos Rocha, o português e sua comissão pensaram em todos os cenários que a partida poderia apresentar. Era uma aposta válida – fonte: url.
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A escolha física começa no duelo contra o Fluminense, que encerra a sequência de seis vitórias consecutivas no Brasileirão. O duelo, disputado no Rio de Janeiro, foi visto como uma oportunidade de poupar titulares visando o jogo contra o São Paulo. Restavam duas semanas inteiras até a final. Abel refutou. Havia tempo demais e seira um jogo de exigência física.
Logo na partida seguinte, o Palmeiras enfrentou o São Paulo, que poderia se complicar na tabela de classificação em caso de derrota. Na expectativa de ver o rival afundar na zona de rebaixamento do Brasileiro, mais 30 mil torcedores foram ao Allianz Parque. No entanto, o comandate português escalou os atletas que pouco eram utilizados. Tratava-se, portanto, de um teste e ajuste físico.
– Temos um calendário de jogos seguidos e não faço milagres, não há magia. Da forma como está organizado o calendário, não há milagres. Sou pago para tomar decisões e sou eu que assumo a responsabilidade das minhas decisões. Temos um plano e vamos segui-lo até o fim, aconteça o que acontecer. Foi isto que deu alegria aos nossos adeptos, 21 anos depois (na Libertadores). Eu e estes jogadores, este grupo é o mesmo, regressaram só jogadores que estavam emprestados. Temos um plano e vamos segui-lo até o fim – explicou, em coletiva após a derrota por 2 a 0.
Na quinta-feira (18), Abel convocou uma reunião e inverteu a posição dos zagueiros. Ainda nesse bate-papo, foi definido que o Verdão defenderia com uma linha de 5, com Mayke na lateral-direita. Escalado como camisa 9, Rony teve suas movimentações coordenadas para Raphael Veiga pisar na área e Dudu gerar espaços através de seus movimentos da ponta para o centro. Por último, mas não menos importante, Piquerez foi responsável por compor como um zagueiro, inúmeras pequenas estratégias e um estilo de comportamento.
– Todos topam? – perguntou ao elenco.
A reunião teve conversa, debate, troca de informações, soluções, ideias e um grande senso de coletivo para que tudo fosse executado com perfeição. As jogadas do Flamengo foram, desde então, mostradas na tela, com Abel fazendo uma análise digna de televisão. O plano Flamengo, então, passa a ter os jogadores como cúmplices.
Veio o jogo diante do Fortaleza, e o Verdão teve seus titulares em campo, para desespero da crítica e parte da arquibancada: ‘mas porquê?’, porque o time precisava ser ativado, precisava desse motivo físico, algo que foi ostensivamente trabalhado pelo Núcleo de Saúde e Perfomance, ao lado da comissão. Felipe Melo era o problema, afinal, estava tendo problemas com seu joelho. Em linhas gerais, já se sabia que ele não suportaria os 90 minutos daquele Palmeiras, que precisaria de altíssima intensidade.
Na despedida da torcida, um jogo que lembrou, muito, a exigência que teria a final. Eram os titulares do Atlético-MG, o campeão brasileiro. Funcionou, a quem jogou, como vestibular. Estiveram em campo os jogadores que Abel queria que tivessem em ritmo para serem utilizados. Basta ver que Patrick de Paula, Danilo Barbosa, Wesley e Deyverson atuaram bem contra o Galo e foram à final com enorme importância, como bem se sabe. Aquela escalação foi o ‘esquenta’ do Verdão.
Naquela terça-feira, inclusive, o time da final foi escalado. Todos souberam os 11 e os possíveis suplentes utilizados em cada necessidade. Se acontecesse determinada coisa, a medida de solução era aquela. Era realmente um tabuleiro cujas peças estavam todas previstas na mente da comissão, que estudou à exaustão cada variável do Palmeiras e do Flamengo. Nada parece ter escapado.
O resto da semana teve um caráter mais ‘tranquilizante’. Abel rememorava aos atletas aquilo que havia proposto, treinado e previsto. No Uruguai, um último ensaio e um rachão, para o que classificam como um relaxamento necessário. As fotos do treino comprovam o clima, cheio de sorrisos, brincadeiras e confiança. Não era soberba, era uma preparação intensa e consciente. O estafe estava convicto que tudo havia sido feito e o elenco estava mental e fisicamente pronto.
O resto da história o torcedor do Palmeiras conhece. Mayke sobre Bruno Henrique. Gómez em atuação célebre. O gol de Raphael no movimento de Rony, suprido pelos outros dois mencionados. Gustavo Scarpa na linha de defesa. Felipe Melo, que havia dito, esperto que é, que jogaria, jogou, mesmo que fossem 5 minutos. E o motivo é Pedro, grande e forte. Nada, nem mesmo um segundo dos 120 minutos, aconteceu sem que tivesse sido pensado antes. O futebol não é ciência, mas a ciência ajuda, e muito, explicar todo seu caos.
O estudo venceu a Copa. O plano, também.
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