Faz 103 anos que o clube que mais venceu títulos nacionais no país que mais venceu títulos mundiais estreou. Foi em Votorantim, perto da Sorocaba que nos Deus Oberdan em 1940 e nos vendeu Luis Pereira em 1968.
O Palestra Italia venceu por 2 a 0 o Savóia. Da Cruz que foi brasão do clube. Do emblema do time que foi Brasil para o mundo em 1951, que foi a seleção há 53 anos no Mineirão, que há 103 anos é o que parece sempre ter sido para quem é.
Time do Savóia que tinha dois Imparato dos tantos que depois seriam Palestra. Palestra Italia que tinha gente de outros clubes que depois seriam quase todos Palmeiras. Players que também vinham do maior rival.
Assim é o futebol. Para ganhar alguém precisa perder. Mas é preciso tanto saber perder quanto saber vencer. E poucos souberam vencer tão bem e tantas vezes quanto aqueles que há 103 anos estrearam pelo time que seria o maior vencedor daquele século – e são os rankings os que contam isso, não o Palmeiras. São os rivais que souberam perder que sabem como é difícil ganhar dessa gente. Buona gente que sabe como é delicioso ganhar pela gênese de gênios.
Não se sabe se foi foi Amilcar, vindo do maior rival, quem primeiro tocou a bola no primeiro match.
Mas talvez tenha matado a bola em algum momento como Ademir da Guia a fazia viver no peito verde.
Stillitano certamente fez a primeira defesa da Academia de primeiros de Primo. E depois Jurandyr, Oberdan, Fábio, Laércio, Valdir, Maidana, Leão, Benítez, Gilmar, Zetti, Velloso, Marcos, Prass.
Bonato talvez tenha feito um desarme como Fiúme. Quem sabe Fúlvio deu um carrinho de Junqueira ou saiu driblando como Luís Pereira ou cabeceando como Mina. Police pode ter sido Carabina ou feito bolinhas como Djalma Santos. Valle chutou forte como Roberto Carlos ou defendeu como Scotto.
Bianco Spartaco Gambini deve ter feito da linha acima da média uma primeira defesa como se fosse Og. Ou Dudu. Ou Sampaio. Pode até ter desmaiado numa bolada ou quebrado costelas como Dudu. Mas ficou em pé. Fincou pé pelo Palestra. E foi do pé dele que saiu o primeiro gol. Como se fosse naquele 12 de junho futuro. De pênalti indefensável para um goleiro que não era Marcos.
Não sei se Bianco fez alguma jogada como a de Sampaio em 1993. Ou, como Og Moreira, em 1942, sofreu um pênalti que levou o rival a desistir do jogo.
Mas imagino que Américo pode ter armado como Jair, Villadoniga ou Chinesinho. Cabeceado como Leivinha ou Servílio. Chapelado como Alex. Fintado como Djalminha.
Pode ter tido corner em Votorantim para Cavinato cruzar como Jorginho ou Arce. Um lateral perigoso para Djalma, Diogo ou Moisés. Ferré pode ter atacado como Rivaldo, Rinaldo ou Rodrigues. Driblado como Nei. Feito tudo como Lima ou Cafu.
Alegretti não foi Heitor. Romeu. Echevarrietta. Aquiles. Tozzi. Mazola. Vavá. Pantera. Tupã. César. Toninho. Evair. Gabriel Jesus. Mas era o comandante do primeiro ataque. Allegretti é autor do segundo gol da primeira vitória do primeiro Palestra. Uma redundância.
Não deve ter batido aquele pênalti como Evair. Não fez os gols que Heitor marcou pelo Palestra, que Maluco fez pelo Palmeiras, que aqueles primeiros pazzi não deveriam delirar tudo que tantos nomes ainda fariam sonhar e ganhar pelo Alviverde inteiro.
A primeira vez a gente nunca esquece. Pacaembu, 1973, a minha primeira.
A primeira vez a gente nem conhece – e foi essa há 103 anos.
Não importa.
Até por nada na nossa vida ser tão emocionante quanto a primeira vez, a segunda e todas as vezes em que nosso time vai a campo.
Grazie tanto, palestrinos de primeira hora e do primeiro jogo.
Nunca os vimos. Sempre os amaremos