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Onde houver uma camisa verde, por Alicce Rodrigues

Onde houver uma camisa verde, por Alicce Rodrigues

ESCREVE ALICCE RODRIGUES

Eu não nasci na fila de 16 anos, não vi a primeira nem a segunda Academia com Ademir e cia. Não chorei com o pênalti de Evair em 93 nos tirando da fila, nem gritei quando fomos campeões da Libertadores. Não xinguei o Marcos na falha no Japão, nem infernizei algum corintiano depois da defesa do São Marcos no chute de Marcelinho Carioca na semifinal da Libertadores de 2000.

Dona Ângela, ela sim viveu a história.

Palmeirense, nascida em 1945, presenciou todos os momentos cantados nas torcidas organizadas. Em 2017, perdeu dois filhos e o marido num acidente, foi a única sobrevivente. Teve que vender toda a sua história guardada sobre o Palmeiras – camisetas e utensílios históricos, afim de ajudar nos gastos com a sua saúde.

Foi também em 2017 que conheci dona Ângela. Libertadores, durante a disputa de pênaltis do Palmeiras contra o Barcelona-EQU, estávamos lado a lado na Mancha Verde.

Fatídica noite, achava que minha tristeza era tamanha até olhar para o lado e vê-la. “Se eu estivesse usando uma camiseta do Palmeiras nada disso estaria acontecendo”, eu a ouvi, muito enfurecida e triste. Supersticiosa, foi a partir desta frase que a conheci.

Eu nasci em 1998, não tinha idade para entender o rebaixamento de 2002, mas em 2008 ri com o chororô de Valdivia naquele ano. Pulei com o gol do Marcos Assunção para o Betinho no Couto Pereira na final de 2012 e desabei meses depois amargurando o rebaixamento. Vibrei em 2013 no Morenão quando ganhamos a Série B. Tomei um remédio para me acalmar depois do pênalti do Henrique “Ceifador” salvador em 2014. Em 2015, segurei meu grito no golaço do Robinho no Ceni só para não acordar minha família, e não poupei minha garganta na defesa do Prass contra o Corinthians na casa deles. O título com gol do melhor chapéu do século e com gol de goleiro. Um título brasileiro. Também tenho construído minhas histórias.

Foi em 2018 que eu me aventurei num brechó online. No primeiro caixa, resolvi fazer um pequeno gesto que me deixa a pessoa mais feliz do mundo. Dona Ângela merece usar esse manto. Passar mais uma oitavas de Libertadores sem esse uniforme ela não irá.

E estaremos juntas amanhã novamente, lado a lado na Mancha Verde.
Viva Ângela!
Avanti Palestra!