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Opinião: 'Cabeça fria, coração quente. Este seria o segredo de Abel?'

Meu desafio aqui está em fazer a análise deste sucesso de Abel sob a ótica da psicologia. Existe alguma explicação cientifica?

O técnico Abel Ferreira, da SE Palmeiras, durante treinamento, na Academia de Futebol. (Foto: Cesar Greco)
O técnico Abel Ferreira, da SE Palmeiras, durante treinamento, na Academia de Futebol. (Foto: Cesar Greco)

A sensação é que se passou muito mais tempo. Abel Ferreira estreou no Palmeiras em novembro de 2020 e, desde então, em tão pouco tempo vem acumulando vitórias, conquistas, seguidores e uma multidão de admiradores. É fato que do outro lado existem críticos, desafetos e invejosos, mas nestes menos de dois anos de clube é inegável que, gostem ou não, ele é um vencedor.

Meu desafio aqui está em fazer a análise deste sucesso de Abel sob a ótica da psicologia. Existe alguma explicação cientifica? Ele mesmo ofereceu um pouco do que poderia ser seus “segredos” ao escrever o livro “Cabeça fria, coração quente”. Um texto em que descreve sua jornada enquanto técnico exaltando o quanto afetos, emoções e sentimentos mobilizam o indivíduo, mas que para isso a mente deve permanecer focada e tranquila.

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Esta técnica desenvolvida no Palmeiras por Abel, muitos imaginam como sendo autoral. Não, pelo contrário. Na literatura, é possível encontrar autores mais antigos que já explicavam tal prática, mas isso não minimiza de modo algum os méritos do técnico. Aliás, este talvez seja o maior segredo do sucesso: sua intelectualidade, a busca incansável por conhecimento de qualidade e o uso delas.

Um aspecto que sempre observo na discussão técnico estrangeiro x brasileiro e penso, ser pouco abordado ainda, é a análise crítica do processo de formação profissional dos técnicos de futebol. Os que vêm de fora possuem algumas competências que sinto falta nos técnicos brasileiros como um discurso mais organizado e crítico, uma prática com variedade de repertório de jogadas, o domínio do campo pedagógico, uma oratória que convença e habilidades do trato pessoal.

Embora tudo isso possa ser adquirido com “vivências pessoais” uma coisa que o academicismo fornece é o conhecimento sistemático e a certeza da prática pautada em evidências. Isso minimiza muitos os erros.

Conseguimos então com isso explicar o sucesso de Abel? Avalio ainda que esta seja uma explicação parcial, uma vez que sabemos que o academicismo por si só não basta para ser bem-sucedido. Por isso, reafirmo que a intelectualidade de Abel é o grande mérito. Ele tem um material vasto de conhecimento e consegue organizar rapidamente, sempre potencializando a favor de si próprio e da sua equipe. Se ele exige de seus jogadores “Cabeça fria e coração quente” podemos mudar um pouco esta frase em relação a ele. Do coração não posso opinar, mas certeza que a mente de Abel é “on fire, forever”!

Catalina Naomi Kaneta é mestre em psicologia escolar e desenvolvimento humano e especialista em psicologia do esporte (CRP 06/60819).