Tem quem não aceita o porco que o palmeirense periquito adotou desde 1986, depois de sistematicamente se calar e se irritar com o grito adversário desde 1976.
Mas foi preciso virar porco como o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão em 1942. Então por intolerância da ditadura brasileira ignorante em guerra contra outra que só tinha a Itália em comum com os palestrinos. Em 1986 o palmeirense emporcalhou para não se sentir mais enxovalhado pelos adversários, numa sacada esperta da torcida que canta e vibra, depois da ideia inicial do diretor João Roberto Gobatto, três anos antes.
Pode até não gostar de ser e de gritar PORCO. Mas é fato. E não há problema algum em ter alma de periquito e espírito de porco. O clube tem dois nomes – Palestra e Palmeiras. Pode ter quantos mascotes quiser – Periquito e Porco. O Porco Gobatto que seria oficialmente adotado no jogo contra o Internacional, rodadas depois.
Tem quem acha ”legal”, ”da hora”, ”desestabilizador” (SIC) de goleiros”, ”trend”, ”suave”, ”contra o politicamente correto”, o zurro de ”bicha” para goleiro rival em cobrança de tiro de meta. Mas teve gente que quis virar o jogo. A campanha #GritePorco caiu no gosto e na boca da galera no Allianz Parque. Magrão do mesmo Sport que inaugurou o estádio em 2014 não ouviu ”bicha”. Apenas ”porco” nos tiros de meta que bateu.
Orgulho do Meu Palmeiras, Meu Palmeiras. Essa uma outra história. Mas esse é o clube que me acolhe mais que eu escolhi. Não é maior e nem menor. É o meu clube. Como a minha família. Basta. Pena que bestas de todos os clubes estraguem festas e punam o clube e os reais torcedores da torcida que canta e vibra na esquina do mundo que é a da Rua Palestra Italia com a Caraíbas. Não é a “esquina do mundo” como a do Times Square em Nova York. Não acontece alguma coisa no meu coração quando cruzo a Ipiranga com a São João como os novos baianos. Mas Caraíbas com a velha Turiaçu é a aliança entre o velho Palestra e o novo Palmeiras do Allianz Parque na novíssima rua Palestra Italia.
O Palmeiras abriu a liderança para seis pontos e segue o líder depois da suada vitória surrada contra o Sport. Mais bonita pelo rosa do número e verde da esperança da camisa da campanha de outubro contra o câncer de mama. Cores da tolerância ainda longe dos estádios. Muitas vezes nos esquecemos que para ganharmos alguém precisa vencer. Afinal, o que seria do Palmeiras sem o Corinthians?
Temos 1993 motivos para lembrar. 1974 histórias para contar. 1999, 2000 vezes. E o gol do Guilherme corintiano na volta do Flamengo ao Maracanã. Um a zero Timão logo no começo do jogo no Rio. Placar que só nos ajudava. Mesmo sem Gabriel Jesus suspenso, o domingo começava maravilhoso. A nossa eliminação com os reservas na Copa do Brasil, no empate por 1 a 1 no jogo de volta com o Grêmio, não foi celebrada. Mas foi alívio. Era só focar no Brasileirão. E fazer o dever de casa.
Mas não estava fácil. O gramado castigado por oito dias de cobertura para os shows de Bocelli e Aerosmith estava ruim. Pior para o time mais técnico. O Sport estava melhor. E poderia ter aberto o placar quando Mina meteu a mão na bola. Pênalti que o juiz não viu. Diferente de Moisés, que numa virada de primeira sensacional deixou Dudu livre para marcar um golaço de contragolpe, na sequência do lance.
Moisés recuado como primeiro volante para conter Diego Souza. Jean e Tchê Tchê tentando marcar e armar e não conseguindo. Allione tentando se redimir da expulsão tola contra o Grêmio. Barrios ao menos tentando algo. E o Sport melhor até empatar com Rogério. E só não virar por Jailson. Que fase. Que goleiro. E que sorte a nossa do gramado salvar gol certo de Everton Felipe, que pegou errado uma bola que quicou no campo castigado pela troca da grama de inverno pela de verão, pela primavera fria, pelos shows no estádio que mais recebeu espetáculos no mundo em 2016.
Poderia estar mais para o Sport. Mas o lateral de Moisés não deixou. Não tem como contestar. Parece difícil marcar. Caramboladas na zaga e o gol de Tchê Tchê no final de um primeiro tempo melhor pernambucano.
O Palmeiras tentou no segundo tempo. Thiago Santos eclipsou Diego Souza. Jean na lateral foi melhor, e tem sido demais em todos os campos e partes deles. Moisés saiu para a frente. Mas ainda assim não encontrou o melhor futebol o time de Cuca. ”Apenas” mais uma vitória que o coloca a seis pontos ”e meio” na ponta, pelo 2 a 2 entre rubro-negros e corintianos no Rio. Meio ponto a mais pelo saldo maior. Melhor. Como o Palmeiras que já jogou muito mais no campeonato que ninguém conseguiu até agora jogar melhor.