(Foto: Sérgio Ortiz/ Forza Palestrina)
Por:Marcelo Mendez
Santo André, 1997:
Em uma daquelas noites de visita no Hospital Jardim em Santo André, enquanto eu me apertava numa poltrona ao lado de seu leito, meu Pai me chamou:
“Ei Barbudo…”
“Fala pai, que foi?!”
“Quanto foi o último jogo do Palmeiras nosso??”
“Ah se liga, pai! Dorme aí…”
“Deixa de ser tonto rapaz. Me diz; Ganhamos?”
“Pai, o senhor já tá aí tudo estragado. Melhor deixar o Palmeiras pra lá, vai por mim…”
Velho riu do jeito que podia e insistiu:
“Não se nega um pedido para um homem nessa minha condição. Diga quanto foi o jogo?”
“Tá bom; Foi 0×0 os dois últimos jogos. O time tá uma merda. Agora dorme!”
“Não!”
“Que?! Como assim, “não”? Dorme aí caralho, quer morrer??”
Nessa hora, meu pai fez toda a força do mundo, se levantou da cama, me pegou pelo braço e disse com a velha firmeza de sempre:
Escuta aqui moleque: eu sou teu pai e te criei para ser feliz. Te preparei para suportar as porradas da vida sim, mas não pra se render assim feito um boi lambão pra tudo que é dureza que aparecer. Que mais você quer? Que eu meta uma faca no meu peito? Você não tá vendo meu estado? Se eu tô te perguntando pelo nosso time é porque isso me da alegria e não importa o resultado de nada. Eu quero falar de futebol com meu filho, posso?”
“Pai…”
“Cala a boca! Promete a mim: domingo você vai lá no Palestra, vai torcer, vai gritar, vai tomar uma cerveja, vai abraçar um estranho na hora do gol e vai ser feliz. Na hora que vocês comemorarem um gol juntos, nada mais será estranho…”
“Pai, deita nessa porra!!”
“Promete!!”
“Tá bom, prometo!”
Assim meu pai deitou e dormiu. Olhando pro velho torci muito pro meu Palmeiras contra o Paraná Clube uns dias depois e aí, depois do 3×1 quis muito contar pra ele. Corri pro hospital depois do jogo na hora da visita, mas ele não estava mais no quarto.
Quando o médico chamou a mim e minha mana pra conversar, nos desenganou e nosso mundo acabou. Dois dias depois o Velho morreu.
Eu sou Palmeirense desde sempre, desde que me conheço por gente, desde quando eu ainda nem sabia o que era ser gente, eu sou Palmeirense.
Ser Palmeirense pra mim são muita coisas, entre elas, até hoje, está esse pedido de meu pai; “Vai lá no Palestra, vai torcer, vai gritar, vai tomar uma cerveja, vai abraçar um estranho na hora do gol e vai ser feliz. Na hora que vocês comemorarem um gol juntos, nada mais será estranho …”
Eu busco na minha torcida pelo Palmeiras, o riso de vocês. A alegria de vocês, meus iguais de Verde e Branco. Eu quero pra vocês, a alegria que transborda do meu coração quando um gol nosso é marcado.
Sei que por vezes não é fácil, bem sei que as vezes a gente xinga, esculacha, tem raivam, mas isso passa. Hoje a noite passará.
Vamos para Arena torcer pelo Palmeiras, contra o América. Se num vier o titulo hoje por meras questões matemáticas, vamos torcer sábado contra o Vasco e sempre que pudermos.
Torcer é um ato de fé, de amor. É minha chance de amar vocês, tanto quanto amo esse time. Vamos juntos, Palestrinos.
Sempre…