Foto: Futebol de Campo.net
Por Raylson Araújo
Minhas primeiras lembranças com o Palmeiras são de 1999. O ano da conquista da América e da tristeza no Japão. Conviver com as derrotas nunca foi algo estranho, aliás, foi algo bem rotineiro. São dois rebaixamentos na história desse clube e eu acompanhei bem de perto cada um deles, além de um quase em 2014. Em todas essas situações, estava lá, firme e forte, “ostentando a fibra” como diz o hino.
O período 2002-2014 não foi nada fácil. Rebaixamentos, derrotas, goleadas, etc. Eu seguia lá, “transformando a lealdade em padrão”. Quando o time levou a Copa, apenas cinco meses depois lá estava ele novamente no fundo do poço. Estes momentos estão bem guardados na minha memória, assim como os jornais esportivos desse período que faço questão de guardar.
Nem sempre tive palmeirenses por perto, muitas vezes sofri sozinho, mas nunca me envergonhei (sou desses que usa a camisa no dia seguinte da derrota), pelo menos pelos desastres em campo, não. Respiramos novos ares, um novo tempo se aproximava, mesmo batendo na trave aquele paulistão (sempre será “ão”, lamento quem chama de “paulistinha”). A redenção chegou em dezembro (“Se o Prass fizer o Palmeiras é campeão!”) e eu como um maluco correndo sozinho pelas ruas do bairro.
Era tanta coisa que eu estava colocando pra fora naquele dia, mas principalmente “mostrar que, de fato, é campeão”.
O Palmeiras foi mudando, ou melhor, retomando o seu protagonismo no cenário do futebol nacional conquistando dois dos últimos três campeonatos nacionais. Aquele moleque que chorava as derrotas no colo do pai também mudou, amadureceu e passou a enxergar de outro modo aquele esporte. É possível olhar para o futebol apenas como entretenimento, mas também tem aqueles que enxergam algo mais profundo.
Comecei a fazer essa transição e perceber que a minha relação com esse time e com o esporte não pode ser apenas sobre vencer ou perder, mas que vai além, e que os bastidores e principalmente os arredores do campo também importam. O futebol tem um aspecto social importantíssimo, então não pode ser aceitável que exista lugares no qual “ninguém passa” (alô cerco na Rua Caraíbas!).
A “nova era” do Palmeiras, com Arena, renda alta, programas de sócio e o patrocinador/conselheira levaram o Palmeiras para uma prateleira muito alta, e não digo alta porque está acima de outros clubes, nada disso. Mas sim porque se colocou distante do seu torcedor e isso é inaceitável, isso sim que me envergonha.
O clube fechou a rua, fechou o treino, elevou o preço dos ingressos, preço do sócio torcedor, parou de falar com a imprensa e ainda teve a audácia de se afastar da TV aberta. Sem falar nas alianças de bastidores. Poxa, é demais viu. O clube se transforma cada vez mais num Football Manager da vida real, onde os olhos estão focados em cada cifra que entra no caixa, pouco importando se o resultado dentro das quatro linhas virá ou não.
Claro que podemos ressaltar inúmeras coisas nesse novo período de gestão mais profissional e não posso negar que eles ajudaram na construção dos resultados. Mas isso não pode ser uma cortina para mascarar certas coisas que estão “embutidas” nesse pacote.
Essa fase tem contribuído para um Palmeiras cada vez mais elitizado e soberbo e desse eu não posso dizer que tenho orgulho.
É esse o “Palmeiras” que é odiado pela imprensa e rivais. E no fundo, nós também não gostamos muito dessa versão. Essa versão de “Palmeiras” ostenta outra coisa, e não a sua “fibra” como indica o hino. O problema é que a manifestação de ódio não chega até a versão específica de “Palmeiras” que merece. São aqueles da parte de cima da prateleira. Ela afeta nós que estamos na parte de baixo. Chegam até nossos ouvidos, nossos aplicativos de mensagens e redes sociais.
Nós que amamos o verdadeiro Palmeiras e não essa caricatura que desenharam por aí.
Existe uma “torcida que canta e vibra” e ela está muito acima do cartola que vende e lucra.