Por Guilherme Cimatti
Neneu, você estaria triste com a saída do Felipão. Você sempre amou o Felipão. E quer saber? Ele bem que lembra o senhor. Sujeito sério, mas sorridente e amoroso. Briga e se arrepende. Dá bronca e abraça. Um tempo atrás aconteceu isso com o Felipe Melo (aliás, Neneu, o Felipe Melo está jogando no Palmeiras). O volante foi expulso, tomou uma puxada de orelha e depois estavam os dois chorando juntos no vestiário. A gente nunca concordou muito no futebol. O senhor amava o Alceu, o Mustafá, o Betinho e o Márcio Araújo. Eu nunca gostei de nenhum deles. Mas nós gostávamos muito do Valvídia, como o senhor chamava o Mago.
Sabe, Neneu. Você faz uma falta danada. Seu neto aqui tem conquistado muita coisa legal e graças ao senhor. Sempre se preocupou comigo, ainda mais quando meu pai – seu filho – faleceu em 2007. Também em setembro, assim como você. Mês que eu pouco gosto por amar muito vocês. Virei seu filho. Fui morar contigo por uns meses. E todo dia cedo, junto com uma voz grossa me chamando de Guigui, tocava o despertador e a rádio. A rádio é a que eu trabalho hoje. Trabalho com quem você ouvia. No programa que você escutava. Queria que o senhor tivesse a chance de dizer que aquela voz no rádio é a do seu neto.
Hoje pensei muito em você. No que estaria pensando. Nunca gostou do Mano, mas não por situação profissional. Apenas porque ele defendia as cores de outro time. Ficou acostumado a torcer contra. Hoje, no entanto, acho que estaria apoiando. Triste pelo Felipão, mas feliz pelo rumo que o Palmeiras tem tomado. Desde 2005 não fazia seis gols no Brasileiro. Quando você se foi, em 2013, nosso time estava na Série-B.
Era para você ter visto o Prass chutar dois anos depois. O Gabriel surgir em 2015. O Dudu chegar. O Moisés tabelar com o Tchê Tchê. O Deyverson se esticar para aproveitar o cruzamento do Wilian. Era pra gente se abraçar do mesmo jeito que fizemos quando o Marcos Assunção cruzou e o Betinho desviou. Quando o Marcos impediu. Era para você conhecer o Allianz Parque. Dividir sua voz com as milhares que cantam e vibram em todos os jogos do Palmeiras.
Na minha profissão eu aprendi que a voz nunca morre.
Era para você ter acreditado comigo no Borja, no Carlos Eduardo, no Guerra. E em tantos outros.
Desde 2013, quando você morreu, eu pouco joguei sinuca. Eu pouco fui pra Guararema. Eu pouco fiz o que eu gostava muito de fazer com você. Meu estádio oficial deixou de ser a sua casa.
O Theo vem aí. Seu primeiro bisneto. Filho do André. Vai faltar alguém para dar aquela gororoba de café, chocolate, pão e goiabada para ele.
Queria que você tivesse visto tudo isso. E estivesse vendo o Palmeiras dividir com o Flamengo o protagonismo do Brasileirão.
Não sei no que você estaria pensando. Mas eu tenho pensado muito no Palmeiras.
Porque pensar no Palmeiras é pensar em você.