Você quase perdeu a voz quando o goleiro perdeu a noção. Mas a bola também se perdeu depois de encontrar as costas de Keno e caprichosamente sair. Isso com apenas um minuto de jogo. Já era evidente: era você. Que não sentiu o barulho da Bombonera. Não ter medo faz parte da sua história. Você não se calou. E propôs como se estivesse no Allianz. Esvaziou a casa deles nos instantes finais. Engoliu qualquer chance de ser eliminado na primeira fase da Libertadores. A mesma competição que foi você em 1999. E é a obsessão de tanta gente apaixonada. Que é tão parecida com você.
É impaciente como você foi em campo durante alguns momentos de 2018. E é desde 1914. Perde a cabeça, vai ao desespero, sangue quente. Xinga, briga, luta. Cobra, se desentende, instabiliza. Mas, assim como você, não desiste. Eis o principal elo entre Palmeiras e torcida: não desistir. E dribla junto gritando olé quando Keno finta o primeiro. O segundo. E o terceiro argentino que tenta impedi-lo. Você também é o silêncio deles – dos adversários – quando Marcos Rocha evita o lateral. Quando cruza. Quando Keno cabeceia. Quando Lucas Lima encobre. Quando eles cantam e vibram por você. Desesperadamente.
Quando Jaílson se estica. Quando a trave evita. Quando Diogo Barbosa é a aposta. A zaga amortece. Quando Felipe Melo desarma já armando. Bruno Henrique impede jogando apenas a bola. Quando Lucas Lima distribui. E Dudu escuta o que precisa e joga fora o que desestabiliza. Você é Borja correndo o que todos eles correram para ver o atacante chegar ao aeroporto. E, assim como você, Palmeiras, eles acreditam no colombiano. Mesmo quando a bola foge. O chute exclui. A canela rebate. O gol desaparece. O placar não reflete.
Gritam por você. Acreditam em você. Eles não se intimidam diante do canto adversário. Do eco argentino. Eram menor número. Mas e daí? São o Palmeiras. E não querem mais do que isso. Viram Tevez finalizar. Ábila desperdiçar. Pavón driblar. Rossi se apavorar. E continuaram firmes no ardor da partida.
Eles são o mundo em 51. A prosa e divindade de 60 e 70. A fé de 80. São a pressão de 90. A pressa por 93. A maravilha de 96. São a América de 99. O ressurgimento de 2003 e 2013. O desespero de 14. O reencontro de 2015 e 2016. O recomeço de 18. Eles são explosivos como o Palmeiras. São barulhentos e exigentes. Corneteiros e apaixonados. São supersticiosos como eu. Fazem de tudo. São esperançosos como eu sou.
Feliz o time que tem a esperança como cor.